Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

EMBRULHO




O embrulho do presente
trouxe tudo, trouxe nada
veio a parte ignorada
veio o todo sempre ausente
veio a vida de fachada
e a mentira de quem mente
a posição indiferente
a confiança outrora quebrada
a palavra mal falada
e a paz que não se sente



quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

BLITZ




Não há blitz que detecte
Combinação mortal que destoa
Faz loucuras, faz a toa
Busca longe, faz que enjoa
E traz a tona o que magoa.

E não sopro nada disso
Pois do sopro que renasce
Lembra o tempo, o enlace
E por pouco que não se abrace
A tristeza vem, embace.

E é só assim que se faz
Só assim é que se fala
Combina o que não deve
Com o que embala
O que te lembra, o que me entala. 



domingo, 24 de novembro de 2013

DEFINHO




Interfiro em seu destino,
tentando acertar o meu.
Troco peças, falsas promessas,
troco carícias e conversas incertas.

Busco o quem sabe,
encontro o talvez,
persigo respostas para perguntas que ninguém fez.
Estranho viver,
estranho virá,
deixar ao acaso o que foi,
o que pode ser,
o  que ainda será.

Enquanto cresce o desejo,
definho sem saber parar,
tropeço em palavras tortas
que insisto em querer usar. 





quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ENTRETANTO




Caminhos solitários,
estradas sem rumo,
sons que nada dizem.
Porém,
você apareceu, me enlouqueceu
trouxe algo que faltava.


Companhia da própria sombra,
vozes sem sentido
presenças que não preenchem.
Entretanto,
lá estava você, lá veio você
chegou e tudo mudou.


Faltava razão, faltava visão
Não tinha sentido, pouco era sentido
solidão, só lhe dão.
Contudo,
pintou esperança, pintou energia
pintou você
para desenhar um novo destino.
para desenhar uma nova história,
para recriar a vida.  

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

AMOR + A




Tens amor em seu nome
Amor que trouxe
Amor que une
Amor que engraça
‘Mor que pirraça
Que hipnotiza
Que me enlaça


Do nada surgiu
Bolinha preta, bola de gude
Que pentelha, amiúde
Que me altera, eu menos rude
Você impera, se porta grude

Amor de Amora, amor que aflora
amor sincero, amor namora
sempre é sim, sempre é na hora
Balança o corpo, rebola o rabo,
ao ver papai descompassado
E quer o colo, desconcertado.

Maria Amora, Amora Maria
Faz feliz por todo o dia
Caiu de banda, surgiu na vida
vida agora que te cria
ou sou criado, agonia
fique junto, euforia
More aqui, moramaria
transforma tudo em alegria. 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

MIRABOLANTE



Fantasie-se para mim
Criando um plano mirabolante
Que te quero, que me quer,
A toda hora, a todo instante,
Sim e não, é e não é
Crie o clima, inquietante.

Mira sim, mirabolante,
Que da mira saiu tudo
Que da mira mudo o rumo
Que da mira fui sortudo
Que mirando, fui mirado,
E assim estando, desajeitado
Posto tudo, complicado

Enfim, não é o fim
Então largue de não
Se sim, pra que assim?
Sendo certo, sendo torto
Sendo o tempo, tempo outro
Tempo certo, tempo louco. 


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

SUMAVEM




Te odeio,
menosprezo,
vai-te embora
e suma, vem.

Te ignoro,
enfim, desprezo,
se vá, outrora,
e suma, vem.

Te olho,
prezo,  não quero,
implora
e suma, vem.

Cedi,
não nego, 
e buscas, me entrego.
Agora
não suma, vem. 


domingo, 13 de outubro de 2013

IDAS




Tempo curto, parco tempo
tempo duro, tempo ingrato
agora já é ontem,
amanhã pode não ser.
Passou por aqui, passou,
foi-se embora sem adeus
foi assim próximo aos seus.

Fica o sorriso, fica a amizade,
Fica a saudade, não fica você.
Fico pensando,
penso se fico,
se corro, desacelero,
se amo, se entretenho,
se busco, se desapego.
E por enquanto fico, apenas fico,
até que passe tempo de ficar. 


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

DAQUI UM POUCO




E daqui um pouco
ele fica louco,
ela pede bis,
as pernas entrelaçam,
tudo como quis
se beijam, se abraçam,
o tempo é feliz,
deliram, se laçam,
já fui, vem e me diz




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

DISFARCE



Ando triste.
Não há motivo aparente,
não há nada que justifique.
Apenas ando.

Escuto vozes do passado.
Vejo o olhar que atormenta.
Sinto falta.
Sinto que não estive.
Sinto que não esteve.

O tempo não foi remédio.
Não curou,
não tirou,
não afastou,
apenas criou disfarce,
capa fina, perecível,
detestável, mas necessária. 





sexta-feira, 27 de setembro de 2013

SIMPLES



Amo assim sem saber,
assim sem entender, 
só amo mais e mais,
tentando o mundo,
tentando crer. 

Buscando um abrigo, 
buscado um além, 
amo-te indiscriminadamente, 
um pouco torto, 
um tanto aquém,
um tanto sério,
bocado nem.

Amo, só amo. 
Vem! 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

SINOS




Foi barulho de sinos
que se ouviu quando as bocas se tocaram.
Foram dois corpos ardentes
que se uniram para nunca mais
deixarem de ser mais de um.

Foi tão despretensioso,
foi tão imaturo,
foi tão singular,
foi tão imprevisto.
Que se tornou seguro.
Que se tornou vital.
Que se tornou insisto.
Que se tornou ar puro.

Que se toque um novo sino,
numa nota sem igual
Fazendo quebrar a rotina,
fazendo sair do normal.
Trazendo você sem medidas
Levando um eu sem igual.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

NUNCA, JAMAIS





As lágrimas não foram em vão,
na partida, na reconciliação,
na certeza, na omissão.
A memória não se apaga mais,
nunca, nunca, jamais.

A voz está presente.
O cheiro insiste em permanecer.
Na pele o toque latente,
faz suar, estremecer.

O tempo corre sem pressa
com as voltas que o mundo dá.
A mente sempre imersa,
tentando te tirar de lá.

E a vida segue imutável,
cada um com seu cada qual,
sustentando o que é instável,
fingindo estar tudo normal.

Pensar que tudo acabou,
que tudo ficou para trás.
Achar que a vida mudou,
e em busca um pouco de paz,
esquecer que foi  forte, intenso,
nunca, nunca, jamais. 

sábado, 3 de agosto de 2013

PODER




O inconformismo talvez seja a energia do mundo. Por causa dele temos as facilidades do dia a dia que conhecemos, temos remédios, soluções para quase tudo. É absolutamente normal querer evoluir, querer conquistar, desbravar. É normal, também, se sentir frustrado quando isso não ocorre, quando a gente batalha muito e não consegue o resultado almejado.

Buscamos respostas (ou seriam desculpas?) nos pontos mais distantes, vamos procurando a culpa alheia para minimizar nossas responsabilidades. E assim seguimos, fingindo para nós mesmos que estamos nos esforçando, que estamos lutando pelas coisas que achamos corretas, quando, na verdade, continuamos com as mesmas práticas, algumas mascaradas de boas intenções, algumas com a mesma roupagem, tudo sem sair do ponto de partida.

Temos o péssimo costume de achar que o mundo conspira exatamente contra uma pessoa: eu! Tudo o que ocorre de ruim é azar, é porque foi comigo, porque se fosse com o fulano não seria assim, não tenho sorte, etc. Não, caro amigo, não há todo um sistema funcionando para vê-lo mal, pra vê-lo sofrer. Coisas ruins acontecem com todas as pessoas e não será você, infelizmente, que estará a salvo disso tudo. A parte boa é que as coisas legais também ocorrerão contigo. E a notícia bacana é que em ambos os casos a incidência de uma ou de outra, dependendo da sua atuação, terá maior ou menor grau. Sim, meu caro, você é o diretor desse filme chamado “vida”. Você ditará os rumos do roteiro e, caso assuma essa postura, conseguirá superar os pequenos deslizes que acontecem em qualquer filmagem.

Reclame menos, faça mais. Olhe para o lado e veja eu tem gente que mal tem o que comer. Veja a quantidade de pessoas que passam coisas inimagináveis e que ainda assim estão tentando melhorar um pouco a vida. Reflita que enquanto você está aí em seu computador, numa temperatura confortável, há gente que não sabe o que é comer há vários dias e que vai morrer de frio daqui a uns minutos. Que há gente que, diferente de você, gostaria muito de ler um texto, mas que não teve oportunidade de estudar.

Você tem as ferramentas. Há pessoas que trabalham ou trabalharam muito para que você chegasse aonde chegou. Pare de perder tempo com as desculpas para usar essa energia para sua evolução. Pare de deixar tudo para depois, para quando der. Enquanto você adia, alguém inevitavelmente estará na linha de frente para ser sua base. Assuma o controle da sua vida e descubra a maravilhosa sensação de pensar com a própria consciência.


É isso


sábado, 27 de julho de 2013

ENTRELAÇADOS



Não diga que não pensa mais em nós
Destrave-se, desimpeça-se,
Negar é fragilidade
Daqueles que se acomodam
Escondidos em falsas aparências
Não bastasse dois corações
Insiste em lançar mais um
Que, pobre, sofrerá,
Crendo ser talvez o único
Único a não saber, talvez
Que aquela inquieta insegurança
É voz latente de inconformidade
De tudo que não foi
De tudo que não será

sexta-feira, 21 de junho de 2013

BASTOU



Pode ser que não dê nada. Pode ser que amanhã o povo canse e tudo volte ao normal. Pode ser que se consiga apenas a redução temporária dos tais R$0,20 nas passagens de ônibus. 

Pode ser tudo isso, mas uma coisa me deixou orgulhoso e isso já mudou: apagou, aos olhos do mundo, a imagem do brasileiro carneirinho, pau mandado, conformado. Isso vai ficar para sempre. Mostramos ao mundo, durante um evento que ficou em segundo plano por causa das manifestações, que nem sempre o brasileiro é só sorrisos, nem sempre só sabe dizer sim, nem sempre vai abaixar pro gringo que vier aqui. 

Parabéns povo brasileiro que foi e está indo à luta. Vocês estão escrevendo uma parte importantíssima da história.

É isso. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

AGUARDE




Intenso por alguns instantes
Posterga o que não vai mudar
Breve como um momento
Entrega o que tem pra dar

Desfrute todo o sabor
Esqueça o que faz doer
Encare, assuma, provoque
Instigue até corromper

Se acaso não for aquilo
Entenda por evoluir
Causou a dor, edifica,
Estar sem estar é sair

terça-feira, 23 de abril de 2013

NUNCA PRECISOU




Nunca precisou
Ser ator de sua novela
Objeto de sua espera
O muro de quem pondera
Alvo de opinião pouco sincera

Nunca precisou
Ser o mais nem o menos
Questionar os sentimentos
Mostrar onde doemos
Expor o que queremos

Nunca precisou
Estar além do ser
Deixar transparecer
Enlouquecer, embrutecer
Faltar fazer, faltar prazer

Nunca precisou
Ser um que não é
Não ter caráter, não ter fé
Ser algo que alguém usou
Definitivamente
Nunca, nunca precisou













sábado, 13 de abril de 2013

INQUIETUDE




Busca incessante do que não se sabe bem ao certo do que se trata. Olhar para um futuro incerto, sombrio em alguns instantes, mas inquietante. Um forte desejo de mudar, sabe-se lá para onde, sabe-se lá quando, sabe-se lá com quem. Mudanças que motivam, que completam, mudanças necessárias para levantar a poeira criada pelo marasmo da rotina.

Algumas pessoas se confortam com o de sempre, com o mesmo, com o atual e imutável. Outras precisam de desafios de tempos em tempos, precisam conhecer coisas diferentes, precisam ter contato com realidades até então inimagináveis, mas que, por destino, por insistência, tanto faz, acabam se tornando a própria realidade, elevada a um status tal que a pessoa, vivenciando tudo aquilo, não consegue compreender como conseguiu viver tanto tempo de outra forma.  E o pior: isso passa. Passa e vira apenas mais um momento de vida, sem grandes méritos, abafado pelo êxtase da próxima novidade.

Talvez sejam pessoas difíceis de serem compreendidas. Quem é doido de largar um emprego daqueles? Aquele cara é maluco de deixar tudo e ir atrás de um sonho que nem ao menos era o projeto de vida dele há alguns anos? Ei menina, se aquiete, não dê um passo maior do que as pernas! Quem bate de frente e faz, é visto como inconsequente, como irracional. Quem se submete às criticas e fica inerte, fica bem com o povo, mas mal consigo mesmo.

Nada de errado em querer ser feliz. Desde que não prejudique outras pessoas, que não faça algo sem pé nem cabeça, tudo certo. Correr atrás do que dá prazer, ainda que seja temporário, é saudável para o corpo, para a alma. Se for sua vontade, vá e faça, assumindo sempre as consequências, caso não seja exatamente o que você pensou. E ainda que estiver ruim, que não estiver sendo o que você pensou, hora de ligar o radar novamente e pensar o que pode fazer para melhorar, hora de agir, reagir.

É isso. 

domingo, 17 de março de 2013

EMBALAGEM




Estando a casca bem, que se deixe de lado o conteúdo. Que se valorize o ter ao invés do ser. Que se vomite a famosa “você sabe com quem está falando?”. Que se classifique as pessoas por suas posses, por sua renda, por seu status social. Que se use o verbo comprar com mais frequência do que um por favor, um muito obrigado. E que se siga vivendo uma vida mesquinha, pobre de substância, superficial.

Há quem consiga viver uma vida inteira somando objetos ao invés de somar sentimentos. Há quem consiga monetizar tudo e todos, enxergando sempre com um cifrão nos olhos. Há que permute uma pessoa boa, porém sem grandes recursos financeiros, por uma amizade de aparência com alguém que muito possua, ainda que essa pessoa mal saiba da existência do fã de cifras alheias.

Como conseguem viver assim? Como podem achar que o mundo gira em torno das posses? O mais contraditório é que as pessoas que vivem assim não são as afortunadas financeiramente, pelo contrário, são pessoas que dependem de outras, pessoas que não conseguiram dar um rumo para a própria vida  e seguem seu caminho dessa forma para satisfazer o próprio ego, para completar um tanque raso de essência.

Atrás de uma falsa solidariedade vem um interesse sem tamanho. Por debaixo da fina cortina de compreensão vem a vontade de ganhar algo. Um convite para uma festa chique, ainda que o lugar reservado seja o mais escondido possível, é mais comemorado do que a evolução intelectual de um ente querido. 

O assunto geralmente é fulano comprou isso, beltrano tem aquilo, fulanita vai para o exterior, sempre nessa linha.  Arrumam desculpa para a estagnação da própria vida, mudam de assunto, não enxergam e não reconhecem a culpa de terem se enfiado ali, naquela vida sem graça, em tons de cinza. Como um telespectador de um Big Brother, fixam-se na vida alheia, como se embaixo do próprio nariz fosse local isento de problemas.

Tenho pena de pessoas assim. São pessoas infelizes. Conseguem alguns minutos de alegria quando estão comprando uma futilidade qualquer, quando estão no meio de um grupo social com grande poder aquisitivo. Mas colocam sempre o objetivo de felicidade no ter, na posse. E se decepcionam, claro. Pena que não conseguem enxergar que a vida teria muito mais sentido se buscassem o entendimento, a compreensão, a empatia, o bem-estar dos outros.


É isso. 

sábado, 16 de março de 2013

AFRODISÍACO




Um belo bumbum chama a atenção. Um par de seios atrai o olhar. Pernocas de fora causam pequenos traumas ortopédicos nos pescoços alheios. Quanto menos roupas, mais “fiu-fius” nas ruas. Lindo, lindo, lindo! Quem não admira mulher assim? Que homem (dos que gostam, lógico) não se encanta com mulheres lindas, vestidas “para matar”?  

Sim, mas e aí? É o que basta para dar tesão? Pode ser. Para uma ou algumas saídas, para um tempo, para uns encontros, claro que é. Mas passa disso? Depende. Caso a gostosura da introdução deste texto se resuma a apenas isso, vai depender muito. Se o camarada tiver os mesmos interesses que ela, der mais valor ao ter do que ao ser, preocupar-se mais com o tamanho do braço do que com as razões de sua existência, aí tudo tende a fluir bem. Mas caso haja um mínimo de senso crítico, aí, caro amigo, o caldo engrossa.

Há aqueles que gostam das gostosonas. Há quem goste de gordinhas, das novinhas, das com cara de nerd, das loiras, das mulatas. Há gosto para tudo, para todos. E há aqueles que gostam de conversar. Não uma conversa de balada, não uma conversa de chavões, de cantadas apenas, de pequenas mentiras que garantirão um fim de noite bem sucedido. Nada mais excitante, mais atraente do que uma boa conversa, uma conversa que causa interesse de ambas as partes, que provoca uma sensação de querer mais e mais, querer estar perto para saber tudo em tão pouco tempo.

Inteligência é, de fato, um afrodisíaco. Não creio que esse tempero da excitação esteja cravado em um diploma. A inteligência que seduz não se aprende nos bancos das universidades.  A inteligência que seduz é a do não conformismo, a do questionamento. É aquela mínima vontade de entender o sentido das coisas, das ações. É aquela que motiva reações, críticas. É ela que intriga, que faz não compreender num primeiro instante, que motiva a investigação, que instiga o aprofundamento. É ela, no final das contas, que traz o gosto de querer mais.

Malhar o corpo é ótimo. Faz bem para a saúde, bem para a autoestima, para a alma. Trabalhar as percepções, o senso de ser e estar, é fundamental. Nosso corpo um dia se amolda, nossa mente extrapola qualquer limite imposto. Busque o além do usual, questione, pense que aquilo posto pode não ser exatamente o que se prega ser. Um passo além do senso comum pode significar uma nova descoberta, mesmo que não seja digna de um Prêmio Nobel, mas que talvez altere o curso de uma importante vida -  a sua!

É isso.  

Obs: recebi, dia desses, de uma amiga, uma frase bem interessante, para os que gostam de escrever. Eis o teor: “escrever é feito caridade, faz bem ao destinatário e sobremaneira a seu autor.”

Boa música para encerrar. "O quereres", com Caetano e Chico. 




terça-feira, 5 de março de 2013

VIOLÊNCIA, SOCIEDADE, POLÍCIA



Em uma cidade qualquer desse país, um adolescente é apreendido pela polícia por tráfico de drogas e levado à delegacia responsável pelo trâmite envolvendo menores infratores. Em sua segunda passagem policial pelo mesmo crime (ou ato infracional análogo ao crime, como queiram), eis que a mãe do pequeno cidadão chega e, com o rosto transtornado de raiva, vai em direção aos policiais, em tom de extrema arrogância, para perguntar o que seu filho havia feito. Os policiais explicam que o pequenino de apenas dezessete aninhos vendeu maconha a diversos usuários, além de esconder outra grande porção da droga em um arbusto. Para surpresa de todos os presentes, a mãe do menino questiona: “ele tá preso só porque vendeu maconha?”. O menor apenas sorri de canto de boca, mas sorri.

Uma famosa atriz, de um canal qualquer, tira diversas fotos em momentos íntimos e as salva em um computador. Eis que essas fotos caem na internet e em horas são acessadas por milhões de pessoas. A atriz, magoada, lógico, vai à polícia e exige providências. A mídia, principalmente a do canal da atriz, cai em cima também. Em alguns dias o autor do furto e divulgação das fotos é preso em casa, mostrando extrema eficiência da força policial local. E que batam palma para a polícia! Esquecem-se, entretanto, que enquanto vários policiais se ocupavam para descobrir o autor do crime em questão, outros milhares de crimes pipocavam pela cidade, crimes graves, inclusive, como roubos, estupros e homicídios. Crimes que ficarão sem autoria, pelo parco efetivo policial, pela pouca efetividade das leis, por prioridades invertidas criadas pela mídia.  

O homem já foi à Lua. O homem mandou robozinho a Marte. O homem consegue perfurar mais de três mil metros mar abaixo para extrair petróleo. Por que então, caro amigo, que esse mesmo homem não consegue bloquear o uso de celular nos presídios? Sim, esse aparelho não era nem para entrar no sistema penitenciário, mas já que entra, por diversas razões, qual o motivo de não haver bloqueio para que eles não funcionem lá dentro? Será que eles sabem que grandes quadrilhas, nascidas e articuladas lá de dentro, comandam a maior parte da criminalidade daqui de fora?

A polícia nunca faz nada, dizem por aí. Certo cidadão bradejava que seu celular havia sido “roubado” e que até hoje não aparecera. Ao longo da conversa, mencionou também que não havia registrado ocorrência na delegacia, pois não possuía a nota fiscal do aparelho, já que comprara de um desconhecido, a preço muito inferior ao de mercado.

O policial foi surpreendido por uma equipe de reportagem dirigindo a viatura sem o cinto de segurança. Matéria longa de TV, mais de 5 minutos, com explicação do comando, com críticas da população, com bronca do âncora do jornal. Uma jornalista de uma grande emissora foi pega no bafômetro. Gostam de precisão? Exatos 33 segundos para comentar o fato que, diga-se de passagem, só foi ao ar por pressão em redes sociais.

Definitivamente, sociedade e polícia não falam o mesmo idioma. E quer saber? São estimulados a cada dia se tornar ainda mais incomunicáveis. Quem ganha com esse afastamento são ELES, os caras que mandam, que não querem ser atingidos, os intocáveis. Que mandem os pobres ao cárcere. Damos uma pequena resposta ao povão, nos livramos temporariamente de problemas e está tudo certo. Que se alterem as leis, criando brechas para nossos caríssimos advogados postergarem as sentenças. E que assim seja eternamente, ou ao menos enquanto durar nossos mandatos. Amém!

É isso. 

domingo, 3 de março de 2013

RAÍZES




Exercício importante é olhar para o passado para observar de onde viemos.  Ver que ter passado por muitas coisas, por muitas dificuldades, não deve ser motivo de vergonha, de tristeza. Pelo contrário, deve ser motivo de orgulho, orgulho em saber que ainda que o caminho tenha sido tortuoso, conseguimos chegar a algum lugar, conseguimos sobreviver com dignidade, sem fazer o mal para os outros, conseguimos alcançar um ponto que muitos duvidavam que chegaríamos um dia.

Lembrar um pouco dessas dificuldades também ajuda em outros dois pontos: faz com que reclamemos menos diante de algum problema e nos dá energia e motivação para lutar com mais afinco, para nem chegarmos perto do que já foi vivido. Ajuda muito em momentos de revolta, naquelas horas em que achamos que a coisa vai muito mal.

Dinheiro nenhum paga o olhar de satisfação daqueles que investiram em você, que abriram mão da própria vida para investir em outra. Ver a emoção, ver o orgulho de citar como exemplo uma pessoa que foi uma aposta de vida, é muito gratificante. Edifica saber que o sentimento é de trabalho cumprido, de que valeu a pena o sacrifício, valeu a pena acreditar.

Dê valor ao seu passado. Dê ainda mais valor às pessoas que batalharam nele para que você chegasse ao ponto que está hoje. Pense que essas pessoas poderiam apenas ter negligenciado sua presença, poderiam ter optado por viverem exclusivamente as próprias vidas. Mas não, abriram mão de muitas coisas para garantir seu desenvolvimento como ser humano, como um cidadão que busca sempre o caminho da dignidade, da honestidade. Elas são a base que sustenta o seu ser. E uma pessoa sem uma base sólida nada mais é que uma construção tendente a ruir a qualquer instante. 

É isso. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

TURBILHÃO




No turbilhão de sentimentos,
Algo que desponta
Na ansiedade de respostas,
Tudo se desmonta
Em busca de solução,
Em busca de paz,
Em nome do amor,
O querer é demais. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

ESTALOS





As coisas acontecendo e você aí, parado, com tantas possibilidades e ao mesmo tempo nenhuma opção. Um silêncio que interrompe pensamentos, um vazio que não se sabe como preencher. Companhias que não representam o querer, presenças que não afastam a solidão. E o tempo, cruel por essência, castigando ainda mais a alma, produzindo o tal passado, tão perto e ao mesmo tempo tão longe, intocável, imutável, reflexo das opções e da falta delas, reflexo de decisões, das ações e omissões.

Passamos toda uma vida atrás de uma meta que nem ao menos sabemos qual é. Buscamos um ideal de felicidade que supostamente nos faria bem, que nos completaria. Idealizamos uma situação que talvez nunca chegue e, por ela não chegar de fato, passaremos nossa vida inteira frustrados.

O som da voz já não provoca as mesmas emoções. O pingo de água passa logo para uma tempestade. O calor natural já não aquece como em outros tempos. Os destinos estariam se desvencilhando? Há alguma solução, algo que possa ser feito? Ou a solução seria apenas deixar o curso natural da vida seguir, sem procurar intervir, sem fazer força para manter um status quo que já não mais agrada, que não seduz, que não inspira?

E como é engraçada essa vida! Quando tudo parece estar dentro do baú do conformismo, eis que surge uma chama, um indício de mudança, algo que balança, que provoca reflexões. Nem sempre muda de verdade, mas cria um pensamento crítico, um estalo que não permite o continuísmo por si só. De pequenas em pequenas transformações vamos tocando o barco, rumo a um destino que não sabemos qual será, mas que, presume-se, ao menos, que seja confortável, que nos faça bem.

É isso. 

Segue uma música que tem relação com o texto. Frisson, interpretada por Elba Ramalho. 


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

ÚLTIMOS INSTANTES




“Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorria, sorria hoje. Pois o importante é viver o hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha”.  Não irei pesquisar a autoria dessa frase. Registro apenas que ela estava tatuada nas costas de uma menina de dezoito anos, uma das mais de duzentas vítimas fatais da tragédia em uma boate da cidade de Santa Maria. Uma menina com toda uma vida pela frente, com sonhos, com projetos, com desejos. Tudo isso se foi em apenas alguns instantes, tudo enterrado com muita dor e sofrimento, um ponto final em um livro com muitas páginas em branco. 

É de se pensar, caro amigo, quando nos deparamos com situações assim. O que estamos buscando para nossas vidas? Pelo que exatamente vale abrir mão de prazeres, em prol de um futuro que a gente não sabe se vem, quando vem, como vem?  Ao nos depararmos com um fim de uma vida como esse, temos a certeza da nossa fragilidade e perecidade neste mundo. Independente de crenças, vivemos aqui um breve momento, uma vida que passa em um piscar de olhos, isso quando ela segue seu curso normal, com a morte ao envelhecer. Imagine então um cessar da vida tão repentino como o dessa tragédia?

Abrimos mão de muitas coisas baseados em conceitos morais, em economia que beira a mesquinhez, em preocupação com opiniões alheias. “O medo é o pai da moralidade”, já dizia Nietzsche. Vivemos, em muitos casos, uma vida medíocre por medo, medo de receber críticas, medo do que irão achar, medo de ser estigmatizado negativamente. Passamos anos e anos reprimindo sentimentos, nos abstendo de sermos um pouco mais felizes, tudo isso em nome de uma ordem moral, de um conceito criado por sabe-se lá quem. E aí ela chega, a dona morte, levando tudo o que ficou preso, levando toda a vontade de fazer, levando todos os “nãos” que deveriam ter sido ditos, todos os “sins” que ficaram apenas em nosso pensamento.

Não é uma apologia à anarquia, não é isso. O limite deve ser sempre em não se fazer maldade com as outras pessoas, em não incomodar a ponto de causar irritação, de causar grandes desavenças. Mas agir sempre de acordo com o que o outro quer é se limitar demais, impedir criações, descobertas, experiências. Há um preço que se paga por ser livre e muita gente não está disposta a pagar por ele, já que costuma ser um valor alto. Dar o grito de independência muitas vezes implica em abrir mão de conforto, de segurança, de mimos. Ponderar entre essas duas coisas não costuma resolver. Não se é totalmente livre, não se é totalmente dependente. Viver em cima do muro é lamentável, vive-se uma vida incompleta, inconsistente, ou seja, não se vive.

É isso.

Dedico este pequeno texto aos vitimados desse lamentável acidente. Que todas as famílias recebam o carinho das pessoas que rezam, oram e pensam nelas. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

MENOS “TWITTAR”, MAIS “TU TÁ AÍ?”




Em tempos de redes sociais, temos mais “amigos” em alguns meses do que os amigos acumulados ao longo da vida. Basta criar uma conta, sair adicionando e ser adicionado, para ter uma grade de amizade imensa, com pessoas já conhecidas e com outras que se conhece por afinidade, por interesse em alguma área em comum. Vive-se, atualmente, uma vida online, com as pessoas perto fisicamente, mas centradas em seus equipamentos ligados à rede, interagindo, sendo altamente sociáveis, informando praticamente tudo o que estão fazendo, mas se esquecendo de que logo ali, a pouquíssimos metros, há um ser real, tangível, do jeito que é e não do jeito que ele gostaria de ser. Não é apenas um perfil criado com cuidado, que exalta apenas as qualidades, um perfil sem defeitos.

Albert Einstein profetizou, certa vez: "Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à nossa humanidade. O mundo só terá uma geração de idiotas”. E não é mesmo que nosso camarada tinha razão? Basta dar uma volta em um shopping ou até mesmo em um bar. Quantas e quantas pessoas estarão ostentando seus celulares, focadas neles. Acho engraçado ver em uma mesa de bar três ou quatro pessoas, todas elas com seus aparelhos em punho, digitando e postando fotos do local, como se estivessem na maior diversão do mundo, ao passo que tiveram que recorrer à tecnologia para aliviar o tédio e até mesmo a falta de assunto, a falta de costume de estar com as pessoas no mundo real.

Não caro amigo, não sou contra estar conectado, ter um perfil em redes sociais. O que acontece é que, como em diversas outras áreas da vida, as pessoas não conseguem ponderar, se jogam integralmente em determinada situação e deixam as outras de lado. Pode atualizar sim seu perfil, postar sua foto com a galera, postar a foto daquele local bonito que você visitou. Mas precisa ficar fazendo isso justamente no momento em que está acontecendo? Precisa tirar foto de tudo o que faz sempre? Que tal trocar a foto da garrafa de cerveja geladíssima por uma introdução a um assunto bacana? Que tal deixar a postagem de onde está de lado e trocá-la por uma boa olhada ao redor, por uma aproximação, pelo início de uma nova amizade real?

Ter muitos amigos nas redes não significa nada se os amigos que você realmente quer por perto estão distantes. Não adianta achar aquele amigo que não se via há 20 anos se quando houver uma oportunidade de falar pessoalmente o papo não fluir, ou pior, se nunca mais, apesar de você “vê-lo” todo dia, vocês se encontrarem no mundo real, offline. Fica uma amizade superficial, com a sensação de estar sabendo tudo o que ele faz e ao mesmo tempo não saber nada. Conhecimento superficial, só das coisas boas – isso definitivamente não é amizade.

Dê valor aos amigos que estão próximos, principalmente aos que te acompanham desde a juventude. Não há nada que pague o tempo que se pode passar junto a eles, relembrando histórias, tirando sarro um do outro, vendo como o tempo passou e a sintonia continua a mesma. Quando estiver próximo, desconecte-se e vá se encontrar com quem pode curtir muito mais sua vida do que uma simples apertada de botão.

É isso.