Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Exteriorizar



No nosso convívio diário somos constantemente cobrados a expressar o que estamos sentindo, ainda que esta expressão não seja necessariamente a realidade. Em todos os momentos as pessoas querem saber o que sentimos e esta resposta é dada, em diversas ocasiões, até mesmo pela linguagem corporal.

Saindo um pouco da generalidade e partindo para o campo do relacionamento, esta necessidade de expressão toma forma ainda mais forte. O pólo passivo na conversa quer ouvir sempre o que a outra parte tem a dizer e cobra, sobretudo, expressão de sentimento. Nem sempre o que se fala e o que se ouve é verdade, visto que a mentira se faz necessária em alguns momentos, como eu já relatei no texto “A mentira acalentando a alma”.

Nós, homens, somos cobrados quase que diariamente a dizer o que se passa em nossa cabeça no que tange ao relacionamento. Falar o que estamos sentindo, se gostamos, o quanto gostamos, o que pretendemos. Parece, aos olhos alheios, que esta é tarefa fácil, quase sistemática. Não é. E explicarei o motivo desta falta de sintonia entre quem quer ouvir e quem é quase obrigado a falar.

Não vou falar por toda a categoria masculina, já que há muita diferença entre nós. Falarei sobre mim e sei que muitos colegas irão se identificar, já que observo o mesmo comportamento, em relação a este assunto, mesmo em pessoas que possuem personalidade diversa da minha.

Acontece, caro amigo, que nós temos sim uma extrema dificuldade em externar o que sentimos. Não é tarefa muito fácil chegar e falar “te amo”, “estou apaixonado por você”, “você é a mulher da minha vida”. Na maior parte das vezes é exatamente isso que sentimos, mas esperamos a mulher enxergar isso de outras maneiras, sabendo que são estes sentimentos que fazem parte da nossa vida em comum. Problema maior é que é complicado a mulher enxergar isso de outras maneiras e ela precisa, necessariamente, de ouvir isso de nós.

Particularmente, expresso o que sinto através das ações. Não tive uma criação com muito contato corporal, com expressão de sentimentos. Apesar de todo o amor materno que recebi, ele não foi materializado com palavras ou carinhos, mas sim por ações, na maior parte das vezes de cunho altamente altruístico.

Este tipo de atitude vale para os dois lados. Tanto para as pessoas que gosto quanto para aquelas por quem não tenho tanta admiração assim. No caso destas, minha expressão resume-se ao ato de ignorar. Não sou de xingar, brigar, ficar falando mal. Apenas ignoro, como se aquela pessoa nunca tivesse feito parte do meu convívio. Acho melhor agir assim. Sei que em muitas vezes deixo de resolver conflitos que poderiam ter melhor solução, mas é um ato semi-institivo de me afastar das coisas que me incomodam. E isso não é uma mera fuga de problemas. É diferente. No caso dos problemas, procuro resolvê-los, não deixando que se tornem uma bola de neve. Este tipo de comportamento é mais limitado ao campo interpessoal.

Falo isso tudo para tentar demonstrar que muitas vezes você pode estar cobrando demais dentro de seu relacionamento. Ao invés de cobrar apenas palavras, tente observar o que é feito por você, o quanto a outra pessoa sacrificou interesses pessoais em seu favor. As atitudes têm muito mais valor que palavras soltas no ar. Lembro-me de um exemplo que marcou isso para mim: um amigo estava num início de relacionamento ainda e, por uma fatalidade do destino, perdeu seu pai. Nessas horas aparecem muitos “amigos”, parentes distantes e outras pessoas que realmente sentiram o baque daquela perda. Entre todas essas pessoas, a que mais me chamou a atenção foi a namorada deste amigo. Como era bem no começo do namoro, não sabíamos como seria o comportamento dela. Muitas se afastariam, deixariam o assunto para a família somente. Não foi isso que ela fez. Ficou ao lado dele por todo o tempo, dando um enorme apoio, sacrificando seu trabalho, seu descanso. Precisava falar que o amava? Coloque na balança um gesto assim e uma mera exteriorização e veja o que pesa mais.

Falar é importante sim, mas não é tudo. Muito mais coisas podem ser ditas com gestos. Enxergue isso e veja que a pessoa que você coloca na parede para falar o que você quer ouvir, às vezes está dizendo isso, através das ações, há muito tempo. Leve em consideração que a pessoa pode ser tímida, pode ter dificuldades de ficar falando. Você pode não ser assim, pode falar a todo momento, mas lembre-se que as pessoas são diferentes e é o respeito a estas diferenças que faz com que um relacionamento seja bem sucedido.

É isso.

sábado, 1 de novembro de 2008

Reviravoltas

Época de aniversário é momento em que refletimos sobre nossa vida, remoemos o passado em busca de respostas para coisas que não andam bem. Mas também é momento de focar nossa visão à frente, buscando sempre perspectivas de melhoras. A chegada da nova idade mexe com nossa cabeça, nos faz pensar diferente do dia-a-dia.

Talvez este texto assuma um tom de desabafo. Ficar longe de casa, das pessoas queridas, faz com que este seja a válvula de escape. Mas, diferente dos outros textos, já que o momento também é diferente, este desabafo aqui não assumirá nenhum traço de melancolia. Ao contrário, será a fotografia do momento feliz que passo.

Passei o aniversário sozinho. Nem mesmo os novos colegas que fiz ficaram sabendo. Não gosto de sair divulgando e, caso fiquem sabendo, legal, não me incomoda receber parabéns. Se estivesse vivendo um outro momento, com certeza seria doloroso passar uma data assim só. Mas não foi. A realidade que me cerca faz com que qualquer nuvem carregada de tristeza se transforme em respingos ao me atingir.

É extremamente gratificante fazer aquilo que você gosta, que você batalhou para conquistar. Não existe tarefa chata, mas sim tarefa que é realizada pela pessoa errada, talvez em um momento errado. Se todos pudessem fazer o que dá prazer, as coisas seriam mais tranqüilas. Todos nos nascemos com aptidões para determinados setores, mas somente a minoria consegue o encaixe perfeito entre este dom e seu ofício. É uma luta cruel, mas é preciso forças. Seu momento agora pode não estar agradável, você pode ir para o trabalho sem motivação alguma, mas tenha em mente que isso é temporário e que, se você realmente quiser mudar sua vida, você consegue.

Mudar quando está ruim é necessário. Somente reclamar, sem tomar nenhuma atitude, não resolve absolutamente nada. Quantos exemplos de amigos que querem passar em concursos públicos, mas chegam do trabalho e sentem em frente à TV, vão beber, enfim, fazer tudo menos estudar? É difícil, é desgastante, diversas vezes pensamos em desistir, em largar tudo e esperar para ver o que acontece. E aí a bola de neve não pára de crescer. Vamos reclamar mais ainda, aumentar o desgosto de ir trabalhar, viraremos uns chatos, descontando até mesmo em pessoas próximas a nós as nossas angústias.

Então, caros amigos, a dica é essa. Passei um bom tempo em busca de soluções para minha vida. Demorou sim, sei que perdi chance de diminuir este tempo já que em muitas situações fui displicente, deixei de fazer uma obrigação para poder apenas matar o tempo. Claro que ainda não tem nada resolvido, que as coisas não estão do jeito que eu quero, mas uma boa parte do caminho já foi feita. O que você quiser fazer você consegue. Basta que você se empenhe para isso. Veja-se fazendo aquilo que te dá prazer, pense como se estivesse na carreira, vivenciando as situações.

Acho que este texto fugiu um pouco dos padrões dos outros. Uma amiga disse-me que sofro do mal do escritor depressivo, que só consegue escrever coisas razoáveis quando passa por momentos ruins. De fato, as idéias aparecem mesmo nestes momentos. Mas entre vivenciar um momento feliz e escrever textos ruins ou ficar triste para escrever melhor, fico com a primeira opção. Perdoem-me, meus amigos, mas pensem que o desprazer de ler algo ruim é compensado pela felicidade do amigo que vos fala. É uma troca justa?


É isso.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A importância do feio e da derrota

Não sei como é para você, caro amigo, mas uma manhã ensolarada funciona para mim como um estímulo para acordar mais alegre, para aproveitar mais aquele dia. Mesmo com sono, tendo dormido mal, basta ver o sol chegando, um céu sem nuvens, que o humor muda, a perspectiva de ficar bem durante todo o dia também. Acredito que o Sol tem este poder de interferir no humor das pessoas. Prova disso é a diferença dos nordestinos para os sulistas do Brasil. No Nordeste, apesar de tudo, das crises, da pobreza, pessoal está sempre rindo, sem disposto. Já no Sul acontece justamente o contrário: pessoas que têm um nível de vida relativamente melhor, mas que andam sempre com a expressão fechada, parecendo estar de mal com a vida.

Pois bem, amigos, disse isso tudo porque, ao valorizar aquele dia maravilhoso que se iniciava, percebi a importância do dia nublado, cinza, feio. Se ele não existisse, com toda certeza eu não daria valor para o dia limpo, não veria o Sol com os mesmos olhos.

Assim sendo, penso nesta situação como uma lição para o nosso dia-a-dia. Sempre buscamos o melhor, damos o nosso melhor a fim de conquistar vitórias sucessivas. É assim como todo mundo. Ninguém gosta de perder, nem mesmo no par ou ímpar. Quem falar que gosta está mentindo ou é candidato a assumir a vaga de Madre Teresa de Calcutá. Gostar de perder não existe; saber perder é uma dádiva, mas este “saber” deve ser entendido na maior concepção possível da palavra. É saber como entender, analisar e ver onde errou, o que influenciou a derrota e o que vai (vai, e não deve) ser feito.

A derrota vem para todos, é natural. No momento que ela chega é terrível, parece que o mundo tende ao caos, que nunca mais recuperaremos as forças. É questão temporal, em breve passa. Tenho certeza que você se lembra de mais momentos bons do que os ruins. Mas aí que entra a importância do insucesso: dar valor maior ao sucesso, à vitória, às conquistas. Só vencer não tem graça. Fazendo uma metáfora muito ruim, pego um caso de quando jogo videogame com um primo de 11 anos. Ele consegue ser pior que eu e não ganha nenhuma partida do futebol virtual. Que graça tem jogar assim? Nenhuma! As vitórias somente têm aquele gostinho bom quando durante a partida surge a possibilidade da derrota. Lutamos mais, nos esforçamos mais para vencer.

Por isso, quando passar por um momento assim, tente encarar desta forma. A derrota, o feio, sempre passa. Como diz um ditado popular “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”. Vivemos ciclos, numa roda-gigante que alterna momentos felizes com decepções. Problema que esta roda não possui a regularidade de um relógio. Como se fosse um moinho. É tarefa nossa soprar o vento que o movimenta. Quando ele estiver no lado ruim, furacão, para passar ligeiro. Do lado bom, brisa marítima, lenta, para valorizar o momento e deixar ainda o perfume do mar na nossa lembrança.
É isso.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mundo mundo vasto mundo

Não sei se este é um sentimento coletivo ou uma paranóia individual minha. De todo modo, é uma sensação que incomoda, faz sentir menor. Não ocorre em todos os momentos, aparecendo, sobretudo, quando sinto que o tempo passou e nada produzi, ou seja, literalmente falando, matei o tempo.

Falo da sensação que tenho quando imagino que o mundo corre, as coisas acontecem, pessoas nascem e morrem, e aqui estou, preso a uma bolha, a um pequeno círculo, sem saber ao menos o que se passa na casa do vizinho ao lado. Pense bem, só neste tempo em que você leu este pequeno trecho do texto, quantas coisas, boas ou ruins, já aconteceram. Acha isso estranho? Já pensou sobre isso?

Quantas vezes já deixamos de fazer alguma coisa e nos arrependemos logo depois por não ter feito? E se tivéssemos lá, o que seria diferente? Aparentemente nada. A Terra continuaria girando do mesmo modo. Não para nós, obviamente. Cada escolha implica numa diferente reação do mundo, do nosso mundo, do mundo daquele que nos cercam. Pensando desta forma, é uma responsabilidade enorme cada decisão que tomamos. Talvez por isso, por um instinto que nos previna desta paranóia, é que analisamos, ação por ação, o que vai ser melhor para nós.

Arrepender por não ter feito algo ou por ter tomado aquela decisão, o que é pior? Não sei. Acredito que a linha de se arrepender do que não se faz somente é melhor. Não tomar a decisão, não fazer, é pior em dois sentidos: primeiro por saber que uma decisão em contrário poderia ser boa, depois por ter perdido a chance de mudar alguma coisa, nem que seja uma mudança boa de humor, ainda que temporariamente. Quando a gente faz, na maioria dos casos é possível ou retornar ao ponto de origem, ou deixar a coisa como está. Não fazendo, fica difícil saber o que poderia ser, além da decepção pela falta de coragem pela omissão.

Há remédio para este sentimento de ser pequeno perto da imensidão do mundo? Talvez. É um remédio natural, que deve ser tomado em doses homeopáticas. Basta viver, usufruir o bem maior que temos, a liberdade de opção. Ir a uma festa ou ficar em casa num sábado à noite, o que é melhor? Vai ser melhor sempre aquilo que o coração mandar fazer no momento. Mas não basta escutá-lo, sob o risco de confundir suas “falas” com outros sentimentos, como a preguiça, por exemplo. Antes de tomar uma decisão, pense, reflita, não responda de pronto. Quantas vezes fomos a um lugar achando que seria horrível e na verdade foi muito bom? E quantas vezes aconteceu o contrário? Aposto que a primeira situação ocorre muito mais que a segunda, não?

Não quero passar em casa enquanto o mundo gira. Vivemos em um formigueiro, então que conheçamos, ao menos, as formigas que aqui vivem conosco. Para conhecê-las, temos que ir a lugares, aos eventos. A internet ajuda nisso, mas é insuficiente, já que ao mesmo tempo em que une pessoas com interesses semelhantes, as afastam, pela frieza de um monitor e pela comodidade que trás, que se transforma numa preguiça de sair dali.

Então, caro amigo, viva, converse, conheça, se entretenha e se entrelace com o que lhe agrada. O que se busca nesta vida? Certamente não é apenas dinheiro ou bens. É mais que isso. A busca pela felicidade está interligada no contato com outras pessoas. De nada adianta ter tudo e não ter ninguém para compartilhar seus feitos. A sensação de ter conhecido pessoas legais é mais intensa do que a de comprar uma roupa da moda. Esta última passa tão rápido quanto a própria moda, ao passo que a primeira tem efeito prolongado e pode ser repetida inúmeras vezes, bastando que a gente queira.

É isso.

Obs: o título deste texto foi tirado do Poema de sete faces, de Carlos Drummond de Andrade.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Futebol e interação social

Talvez você, caro amigo, não goste ou não pratique futebol. E talvez, por isso, não vá compreender muito bem o que irei dizer nas próximas palavras. Ainda assim, é bom que leia e, tenho certeza, passará a compreender um pouco melhor a magia que o futebol exerce nas pessoas. Não é por um acaso que ele é o esporte mais praticado e acompanhado do mundo.

Vivemos em um mundo cada vez mais individualista e em que, a cada dia mais, as pessoas buscam contatos apenas de cunho profissional, mantendo relações frágeis e vãs. A falta de tempo, a necessidade de apoio em caso de desemprego, o egoísmo, são alguns sustentáculos deste tipo de relacionamento. Como acontece em tudo na vida, quando não se pratica determinada ação, perde-se o hábito e, no momento em que for necessário, as pessoas terão dificuldades em iniciar um relacionamento desprovido dos interesses materiais.

E é nesta linha que entra o futebol. É impressionante o que acontece com as pessoas quando jogam ou mesmo quando assistem a uma partida. No primeiro caso, cito o exemplo de uma pelada, organizada por uma turma de faculdade, por exemplo. Sempre aparece um colega de alguém da sala para jogar. O cara vai lá, entra e joga. Até aí tudo bem. O engraçado é que, passados 5 minutos de jogo, as pessoas que não conhecem este cara já estão conversando com ele, pedindo bola, abraçando na hora do gol e xingando por um passe errado. Tamanha intimidade construída em apenas alguns minutos. Detalhe é que, em muitos casos, um não sabe nem o nome do outro. Ainda assim estão ali, traçando laços de afinidade que, numa situação normal, demorariam meses para serem construídos.

Num estádio, por exemplo, a mesma coisa: pessoas desconhecidas que, ao apito inicial do juiz, tornam-se “amigas” de longa data. Quando o time do coração está mal, sobra xingamento para juiz, jogadores e técnicos. Palavrões que jamais seriam ditos daquela forma, aos berros, perto de pessoas estranhas. E na hora do gol? É um tal de um abraçar ao outro, pular, gritar junto. Quando o time perde uma final é que a coisa fica interessante: um bando de marmanjo chorando, tentando reunir forças para ir embora e esquecer aquela decepção. Homem não chora! Não chora perto dos pais, da mulher... vá a um estádio em dia de final e observe a torcida do time perdedor para você ver!

Há também um outro lado. Como pessoas amigas, conhecidas há muito tempo, podem se tornar “inimigas” dentro das quatro linhas. No calor de uma partida, com um jogando para cada lado, basta uma entrada mais forte que o clima esquenta e as coisas só não entram para as vias de fato porque a galera do abafa está sempre presente. Ao esfriar a cabeça, tudo volta à normalidade, com o pessoal rindo daquela situação. Tudo é esquecido e na outra pelada pode ser que aconteça tudo de novo.

Como vê, o futebol não tem esta força à toa. Ele é mágico, exerce um fascínio, causa sensações inexplicáveis nas pessoas. Um cara frio, que mal abraça a mulher, faz um gol num campeonato importante e só falta beijar os companheiros de time (olha que isso já aconteceu em alguns jogos!). Um cara calmo, que não gosta de briga, é capaz de entrar numa confusão generalizada em campo. E assim seguem as partidas, as peladas e o mundo de emoções que o futebol proporciona às pessoas.

É isso.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O uso de algemas pelas polícias

Dias desses a Polícia Federal trabalhou em uma operação que desmantelou uma quadrilha que, com a atuação de grandes lobistas, conseguia liberar recursos do BNDES. Várias pessoas estão sendo investigadas e algumas já foram presas temporariamente. Suspeita-se até mesmo que o Dep. Federal Paulinho da Força Sindical esteja envolvido com esta quadrilha.

Fato é que, ao prender um advogado, chamado Ricardo Tosto, a PF foi bastante criticada pela OAB e por outros setores da sociedade, somente pelo fato de ter colocado algemas naquele suspeito. Dizia-se que o uso das algemas era constrangedor, intimidatório, desnecessário. Será mesmo? Vejamos.

No bendito caso da Isabella Nardoni, a PM paulista utilizou algemas na condução do casal suspeito. No momento da prisão, havia um aparato que envolvia mais de 20 viaturas, centenas de policiais das tropas de elite das polícias civil e militar e aquele mundo de gente hostilizando o casal e gritando palavras de ordem. Seria mesmo necessária a utilização das algemas? Haveria alguma possibilidade de reação dos dois? Claro que não. Mas ainda assim, as “pulseiras” foram usadas.

Pelo menos até onde li sobre este episódio, não vi ninguém reclamando, a não ser o pai do Alexandre Nardoni, que havia feito um acordo com a polícia para que a entrega do casal fosse feita de uma forma mais tranqüila, o que também não foi respeitado. No momento que o pai e a madrasta chegavam às suas respectivas delegacias para a formalização da prisão, quase tiveram o braço quebrado, devido ao empurra-empurra dos jornalistas e da população.

Não estou aqui defendendo ninguém. Não faço parte da equipe de advogados do casal. Estou apenas usando um exemplo atual para mostrar que, talvez por falta de uma padronização, o uso das algemas é um dos assuntos mais controversos dentro do âmbito policial. A legislação pouco fala sobre isso. No Código de Processo Penal, embora não mencione a palavra algema, há uma previsão de que o uso da força somente será permitido em caso de fuga ou para evitar agressão contra o preso e contra terceiros. A Lei de Execução Penal fala que, em seu artigo 199, que o emprego de algemas será regulado por decreto federal, o que ainda não foi feito até o presente momento.

As questões são: Por que há diferenciação neste uso? Por que algumas pessoas usam algemas e outras não? Qual o critério utilizado? Em um primeiro momento, penso que o critério se baseia na situação econômica. Isso vale para a maioria dos casos. Pessoas com situação financeira bem favorável dificilmente são algemadas ao serem detidas. Após, penso que o uso também se baseia em um caráter expositivo, não somente das pessoas presas, mas também do órgão coercitivo, querendo mostrar trabalho.

Já que não há regulamentação, a solução é adotar um critério único. Grampo em todo mundo que for detido. Se a justificativa é a segurança da pessoa e dos que a detêm, nada mais justo que o tratamento seja igualitário. Não sei qual deve ser a sensação de ser preso, e espero jamais saber, mas deve ser uma coisa perturbadora. Imagina uma pessoa pacata, mas que está no mundo do crime, por exemplo, de corrupção. Imagine que esta pessoa tem uma arma em casa e, ao saber que vai ser presa, resolve tentar se safar, no calor daqueles acontecimentos. Nunca se sabe qual será a reação de uma pessoa detida.
Por tudo isso o ideal é algemar, deixar a pessoa imóvel por um tempo, para os ânimos se acalmarem e, após isso, verificar se ela tem condição de conversar ou depor sem estar algemada. Seja membro da OAB, juiz, parlamentar ou ladrão de galinhas. Tratamento igualitário, procedimento padrão e menos uma polêmica a ser discutida.
É isso.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A mentira acalentando a alma

A capacidade de pensar é o que mais difere o ser humano dos outros animais. Penso, logo existo, diria Descartes. Penso, minto, logo existo, eu completaria. A mentira é um subproduto do pensar e está encravada na consciência humana. Somos educados e crescemos ouvindo e praticando mentiras diariamente. E talvez não houvesse possibilidade do convívio entre as pessoas se não existisse a mentira para amenizar algumas situações.

O cachorro, por exemplo. Ele jamais mente. Se gostar de uma pessoa, abana o rabo, fica perto, chama para brincar. Quando não gosta, late, rosna, morde. Ele não finge ser uma coisa que não é. Apenas demonstra, sem hesitar, o que está sentindo naquele momento. Com os outros animais também funciona assim, em menor ou maior sinal de demonstração.

Já nós, os evoluídos seres humanos, necessitamos da mentira. Por vezes ela serve como um conforto às inquietações. Por outras, para mascarar falsas felicidades, que aumentam ainda mais o ciclo da mentira em nossas vidas. Muitas pessoas fazem de suas vidas uma grande encenação, atuando de forma a convencer que sempre vivem maravilhosamente bem. São pessoas que usam a mentira em sua forma mais cruel, que é a de mentir a si mesmo.

Em diversas situações a “auto-mentira” se faz presente. São pais que sabem que suas filhas vão para as casas dos namorados, mas que fingem para si que elas estão com as amigas. São pessoas que fingem estudar enquanto estão com a cabeça em outro lugar, somente para dar uma satisfação de que fazem alguma coisa. Outras que fingem um altruísmo coletivo enquanto o egoísmo as corroem.

Homens e mulheres usam a mentira cada qual a sua maneira. As mulheres mentem mais nas amizades, tecendo elogios falsos umas às outras, sugerindo coisas que não gostariam para elas próprias. Homens mentem em relação ao trabalho, têm vergonha quando não estão no mesmo status que os amigos. Além disso, usam um bocado da mentira nos relacionamentos, que talvez não durassem uma semana se elas não fossem mesmo usadas.

É preciso saber dosar. Não há como ser verdadeiro todo o tempo, sob o risco de magoar pessoas queridas. Pense como seria ruim se uma amiga lhe perguntasse se está gorda? Por mais que você pense que sim, jamais pode falar isso na lata. A mentira pode e deve ser usada em algumas ocasiões, mas sempre de um modo moderado. Mentir ou omitir uma informação pode trazer a paz ou levar ao inferno. Mais importante do que mentir ou não, é saber até que ponto esta atitude interfere na esfera pessoal do outro e quais seriam as conseqüências reais caso tudo viesse à tona.

É isso.

sábado, 26 de abril de 2008

Reflexões em uma noite de sábado



Da minha janela ouço adolescentes tocando violão e cantando na porta de um bar. Quando mais jovem, não era bem esse meu programa preferido, mas ainda assim me parece ser divertido. Se estou em casa hoje, é fruto de uma série de acontecimentos das últimas semanas, entre eles um tombo de moto e, fato que já acontece há bem mais tempo, a chamada restrição financeira para extravagâncias.

Estar em casa não era bem o que queria. Gosto de sair, conversar com amigos, ver pessoas diferentes. Mas no momento penso que isso não é o melhor para mim. Tenho outras prioridades, que deveriam ser cumpridas neste período de reclusão domiciliar, mas que são realizadas apenas em parte (estudar, por exemplo).

Estranho é a busca por uma felicidade que nunca vem de forma completa. Sei que ela não existe, que a nós vivemos momentos de felicidades. Isso é mais do que óbvio para mim. Mas há momentos em que as coisas parecem ter saído do eixo, que nada se encaixa. Dias desses fiz um pequeno teste de personalidade em um site e, segunda uma definição no resultado, às vezes entro em um momento que eles denominam “modo-catástrofe”, onde só vejo o lado ruim em todas as possibilidades.

Acredito que todas as pessoas são assim, variando apenas na escala de percepção desse sentimento. São fases da vida, complicadas, bem verdade, mas que passam, assim como passam também os momentos felizes que vivemos. Talvez fosse banal termos apenas bons momentos. Os ruins têm grande serventia, que é a da valorização dos bons, quando acontecem.

Mas o que é sentir o momento da felicidade? Cada pessoa sente de acordo com o que gosta, com o que considera essencial para sua vida. Algumas pessoas ficam felizes quando ganham dinheiro, outras pela vitória do time, outras pela vitória de outras pessoas. No momento, o que me satisfaz são vitórias pessoais, quando consigo alcançar coisas que desejo, através de meu esforço. Talvez por isso que esteja passando por uma fase um pouco ruim, já que, apesar de algumas aprovações em concursos, andei tendo resultados insatisfatórios. Como disse, acredito ser apenas uma fase que, ainda que existam outros fatores, tem grande parcela de culpa exclusivamente minha. Como mudar? Simples. Mudando. Mudando métodos, rotinas, hábitos, me esforçando mais, fazendo por onde. Já tive fases em que fui um lutador, que batalhei para conseguir o que eu queria. Agora me sinto mais fraco, talvez pela idade, talvez pela falta de motivação.

Sei que você, caro amigo, não tem nada com meus problemas. Talvez, e espero que sim, você esteja em um bom momento de sua vida. Mas este pequeno relato serve como um alerta, mostrando que sempre a gente vai ter que percorrer os baixos caminhos da alegria, sempre teremos que superar momentos ruins para que o sabor da vitória seja mais gostoso. Pode apostar que em breve estarei aqui falando sobre conquistas, sobre como minha vida mudou. É assim com todos, não temos muitas escolhas. Viva, tente aproveitar seus momentos e tirar lições de qualquer coisa que acontecer, para que você esteja mais preparado quando coisas não tão agradáveis surgirem.

É isso.

Caso Isabella Nardoni - como não falar sobre?

Tudo bem que esta história já ocupa metade dos nossos telejornais. Mas resolvi escrever alguma coisa sobre, com a simples intenção de deixar como registro um dos casos mais estranhos, não pelo crime, mas muito mais pela exposição que ele teve na mídia.

Pois bem: é um caso muito cruel, sim, jamais negarei isso. Qualquer morte desta forma é cruel. Apenas acho que casos assim acontecem todos os dias, várias crianças são mortas de diversas formas e pouco se fala sobre. O caso Isabella reina na mídia há quase 1 mês, com diversos personagens que contribuem para que esta exposição se faça cada dia mais presente.

Na mesma semana que ela foi morta, um cara em BH deu um soco na boca de um bebê, matando-o desta forma. Quem ficou sabendo disso? Pouquíssimas pessoas. Era um caso para ser discutido também. Por que este caso da menina da janela caiu na mídia desta forma?

Teria sido a situação financeira das famílias envolvidas? Acredito que sim. Se o caso ocorresse na Cohab, em SP, não haveria tanta repercussão (ou nenhuma, melhor dizendo). Outra coisa que contribui, e muito, para isso, é a necessidade que a grande massa brasileira tem de acompanhar “novelas”, casos que tragam ao cotidiano a vida de outras pessoas, expõe os pontos fracos dos outros. Por que você acha que o Big Brother faz tanto sucesso assim? Pelo menos motivo, necessidade de esquecer da própria vida através do julgamento dos problemas alheios.

A mídia extrapolou seu papel de informar. Passou a acompanhar este caso de uma forma exaustiva e, desta forma, incitou a população ao pré-julgamento, condenando o pai e a madrasta da menina antes mesmo do início da produção de provas no inquérito policial. Hoje em dia a polícia paulistana é obrigada a mobilizar dezenas de policiais para apenas acompanhar os indiciados ao depoimento na delegacia. Uma tropa de elite lá, formada pelo melhores policiais, que recebem as melhores armas e treinamentos, é forçada a fazer escolta de 2 pessoas, de ter que ir à rua onde moravam para cadastrar moradores que poderão entrar no prédio no dia da reconstituição dos fatos. Isso não é brincadeira. E os outros crimes, que certamente estarão ocorrendo na cidade, quem irá combater?

Após a elucidação deste caso, é preciso que todos os atores envolvidos vejam em que medida sua participação influenciou no tamanho que este caso alcançou. Isso não pode se repetir, sob o risco de termos um colapso do sistema de punição.

É isso.