Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

sábado, 28 de novembro de 2009

Síndrome do reclamão

Tenho certeza que não preciso perguntar se você, caro amigo, já teve contato com uma pessoa “portadora” dessa síndrome. Em linhas gerais, consiste naquela pessoa que reclama de tudo e de todos, que acha que nada está bom. Obviamente que esses não são os únicos sintomas e cada reclamão desenvolve alguns outros, de acordo com sua personalidade.

Estar junto a um reclamão é tarefa extremamente complicada e requer muita habilidade, visto que a possibilidade de contágio, dependendo do dia em que você estiver, é alta. Caso ele te pegue desprevenido, com a alta estima baixa, chateado com alguma coisa, é provável que você se torne um, ao menos naquele momento. O único remédio nesse caso é refletir antes de ficar reclamando, pensar que isso não resolverá absolutamente nada os seus problemas e, provavelmente, apenas tornarão a percepção desses ainda maiores do que já são de fato.

O reclamão pensa que o mundo gira em torno dele e que há uma eterna conspiração de tudo e de todos contra ele. Se algo acontece, é porque ele estava na situação, senão seria diferente, correria tudo bem, tudo normal. Não, reclamão, não é isso. Os problemas acontecem com todo mundo e todo mundo sente da mesma forma. Ninguém tem sorte ou azar o tempo todo, as coisas passam, independente de quem esteja no foco da situação. Pare de pensar que tudo o que acontece é porque você está envolvido. Você é apenas mais um na engrenagem que move o mundo.

Cada um de nós tem sua importância no mundo, na família, no nosso círculo social, mas uma coisa muito fria e realista precisa ficar clara aqui: ser importante não significa ser fundamental, ser decisivo para que as coisas continuem funcionando. Quando a pessoa morre, ela deixa saudades, familiares e amigos ficam tristes, sentem falta. E só. Tudo continua do mesmo jeito, o jogo de futebol do seu time vai acontecer no próximo domingo, seu cachorro vai comer ração normalmente, seu namorado ou companheiro vai arrumar outra pessoa. É inevitável. E justo, muito justo. Ou você queria que todos entrassem em um luto infinito?

Outra coisa: só reclamar resolve? Pergunto isso porque o que mais se vê nesse tipo de pessoa são reclamações vazias, carentes de uma ação simultânea. Reclamar quando está ruim é normal, todo mundo faz. Mas quem reclama e age é uma coisa, quem reclama só por reclamar é que chateia. E os portadores da “síndrome do reclamão” já acordam reclamando, reclamam ao longo do dia e dormem da mesma forma. Basta olhar para a vida deles que se observa que a maioria das reclamações não procede, que ele fala de coisas que não existem e que as coisas que têm algum fundamento continuam da mesma forma, visto que ele nada faz para mudar a situação. Não muda por medo, por fraqueza, por saber que pode ficar muito pior do que virtualmente está, mas ainda assim continua reclamando.

Os reclamões possuem outra característica em comum, que é a de falar muito de si, de só falar na primeira pessoa. Como pensam que estão no centro do mundo, acreditam fielmente que sua posição ali, naquele momento, quer dizer alguma coisa. Expõem opiniões sobre tudo e sobre todos, do cocô à bomba atômica (essa citação é do Jô Soares), entram em polêmicas desnecessárias apenas para impor o ponto de vista e ficam extremamente chateados e furiosos quando discordam dessas opiniões.

Portanto, se você, caro amigo, se viu nesse texto (o que é difícil, porque os reclamões não aceitam opinião de ninguém, sobretudo quando se critica o modo de agir), repense alguns valores da sua vida, imagine que quem está ao seu lado não é obrigado a aguentar seu temperamento e que viver assim só afasta do seu convívio pessoas que lhe querem bem. Se você for um chefe assim, muitas pessoas ainda ficarão do seu lado, mas apenas por questões profissionais, puxando o saco de alguém insuportável e que, se tivesse escolha, seria a última pessoa a se querer por perto.
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Viva mais, reclame mesmo, aja para mudar o que te incomoda, mas não queria que as pessoas tenham pena de você, não queria que todos mudem seu modo de viver apenas porque você não está feliz em determinada situação. Seja mais altruísta, pense menos em dinheiro, em posse, pense mais no outros, em como você pode ajudar. Isso vai te tornar um ser humano melhor, alguém que quando envelhecer vai olhar para trás e ver que valeu a pena ter vivido, que ficou marcado na memória das pessoas por suas atitudes positivas.
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É isso.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Amor, dependência e controle

Sou um pouco cético quando observo as pessoas trocando declarações de amor por aí. Não, não duvido da existência desse sentimento e o acho fundamental para nossa vida, mas acredito que muitas pessoas banalizam esse sentimento por aí afora. E essa é apenas uma das “más aplicações” do conceito de amor. Tentarei mostrar algumas delas nesse pequeno texto.

Talvez você, caro amigo, já tenha reparado essa situação: uma pessoa que mal conhece a outra e já a trata pela alcunha de amor. É provável que a pessoa que diga isso nem perceba tanto, mas será que quem ouve não acha, no mínimo, estranho? Bom, eu acharia. Mais do que estranho, acharia vazio, desnecessário e, com toda certeza, falso. Alguns substantivos, como amor, amigo, entre outros, não devem ser dito tão desnecessariamente, não devem ser vulgarizados, colocados no mesmo patamar de outros com menos intensidade.

Outra situação é a confusão que existe entre amor e dependência. Essa dependência, aliada ao comodismo, faz com que algumas pessoas confundam os sentimentos, achando que amam aqueles que apenas estão cotidianamente em suas vidas, que são presentes como uma carteira ou um celular, que farão falta quando “sumirem”, mas que poderiam ser substituídos por outra pessoa, sem maiores traumas. Acontece que optar por essa troca não é tarefa simples e, dessa forma, as pessoas vão levando seus relacionamentos, deixando passar o tempo e não se dando conta de que isso só aumentará o sofrimento quando essa relação se romper.

Ser dependente de outra pessoa tem diversas implicações negativas. Não se vive uma vida dessa forma, senão corre-se o risco de não ver a maior parte de suas vontades satisfeitas, de ver que sua vida passou em função de outra, em função de desejos de outra pessoa, muitas vezes não coincidindo com os seus. O problema é que quase sempre quem está nessa situação não consegue visualizar que a vida corre dessa maneira. Quem vive iludido, achando que tudo é em função do amor, até briga quando outra pessoa faz algum comentário sobre essa situação, acha que é inveja, ciúmes, etc. Pode até ser mesmo, mas em muitos casos não é. Quem está de fora consegue enxergar coisas diferentes, pode ver o mal que a pessoa está fazendo a si mesmo se enganando dessa maneira.

Por último, acho interessante falar no amor como subsidio para controle. É importante, caro amigo, dizer que essa situação não é necessariamente o contrário da dependência, já que muitas pessoas controladoras são, ao mesmo tempo, extremamente dependentes. De fato, talvez essas duas características andem lado a lado, mas não necessariamente na mesma proporção. Por amor, controla-se os passos da outra pessoa. Com a justificativa do amor, sacrifica-se um descanso, uma coisa importante a ser feita, para exercer o controle. Quem controla precisa abdicar de atividades necessárias para ter tempo de controlar. Quem é controlado, considera essa “dedicação” excelente, acredita que o amor faz com que ela tenha toda atenção do mundo, não conseguindo ver, todavia, qual a real intenção desse tipo de atitude.

No mais, é isso. Sei que pode parecer uma visão muito pessimista, mas penso que nada mais é do que a observação um pouco mais fria, um pouco menos romântica, de situações cotidianas. Lógico que tem muita gente feliz com a vida desse jeito, mas talvez esse conceito de felicidade, esse suposto ápice que ela acha que vive, não seja absolutamente nada em vista do que ela poderia viver se pensasse de outra forma.
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É isso.