Em uma cidade qualquer desse
país, um adolescente é apreendido pela polícia por tráfico de drogas e levado à
delegacia responsável pelo trâmite envolvendo menores infratores. Em sua
segunda passagem policial pelo mesmo crime (ou ato infracional análogo ao
crime, como queiram), eis que a mãe do pequeno cidadão chega e, com o rosto transtornado
de raiva, vai em direção aos policiais, em tom de extrema arrogância, para
perguntar o que seu filho havia feito. Os policiais explicam que o pequenino de
apenas dezessete aninhos vendeu maconha a diversos usuários, além de esconder
outra grande porção da droga em um arbusto. Para surpresa de todos os
presentes, a mãe do menino questiona: “ele tá preso só porque vendeu maconha?”.
O menor apenas sorri de canto de boca, mas sorri.
Uma famosa atriz, de um
canal qualquer, tira diversas fotos em momentos íntimos e as salva em um
computador. Eis que essas fotos caem na internet e em horas são acessadas por
milhões de pessoas. A atriz, magoada, lógico, vai à polícia e exige
providências. A mídia, principalmente a do canal da atriz, cai em cima também. Em
alguns dias o autor do furto e divulgação das fotos é preso em casa, mostrando
extrema eficiência da força policial local. E que batam palma para a polícia!
Esquecem-se, entretanto, que enquanto vários policiais se ocupavam para
descobrir o autor do crime em questão, outros milhares de crimes pipocavam pela
cidade, crimes graves, inclusive, como roubos, estupros e homicídios. Crimes
que ficarão sem autoria, pelo parco efetivo policial, pela pouca efetividade
das leis, por prioridades invertidas criadas pela mídia.
O homem já foi à Lua. O
homem mandou robozinho a Marte. O homem consegue perfurar mais de três mil
metros mar abaixo para extrair petróleo. Por que então, caro amigo, que esse
mesmo homem não consegue bloquear o uso de celular nos presídios? Sim, esse
aparelho não era nem para entrar no sistema penitenciário, mas já que entra,
por diversas razões, qual o motivo de não haver bloqueio para que eles não
funcionem lá dentro? Será que eles sabem que grandes quadrilhas, nascidas e
articuladas lá de dentro, comandam a maior parte da criminalidade daqui de
fora?
A polícia nunca faz nada,
dizem por aí. Certo cidadão bradejava que seu celular havia sido “roubado” e
que até hoje não aparecera. Ao longo da conversa, mencionou também que não
havia registrado ocorrência na delegacia, pois não possuía a nota fiscal do
aparelho, já que comprara de um desconhecido, a preço muito inferior ao de
mercado.
O policial foi surpreendido
por uma equipe de reportagem dirigindo a viatura sem o cinto de segurança.
Matéria longa de TV, mais de 5 minutos, com explicação do comando, com críticas
da população, com bronca do âncora do jornal. Uma jornalista de uma grande
emissora foi pega no bafômetro. Gostam de precisão? Exatos 33 segundos para
comentar o fato que, diga-se de passagem, só foi ao ar por pressão em redes
sociais.
Definitivamente, sociedade e
polícia não falam o mesmo idioma. E quer saber? São estimulados a cada dia se tornar ainda mais incomunicáveis. Quem ganha com esse afastamento são ELES, os
caras que mandam, que não querem ser atingidos, os intocáveis. Que mandem os
pobres ao cárcere. Damos uma pequena resposta ao povão, nos livramos
temporariamente de problemas e está tudo certo. Que se alterem as leis, criando
brechas para nossos caríssimos advogados postergarem as sentenças. E que assim
seja eternamente, ou ao menos enquanto durar nossos mandatos. Amém!
É
isso.