Ontem, dia 29 de agosto de 2011, o Correio Braziliense deu uma manchete com o seguinte teor: “Supostos lutadores da UFC espancaram rapaz na 106 Sul neste domingo”. De acordo com a matéria, alguns jovens, após assistirem, pela televisão, ao campeonato de UFC que acontecera no Rio de Janeiro, saíram do bar e espancaram um jovem, que teve que ser submetido à cirurgia no maxilar por conta das agressões sofridas. Após a matéria, muitos comentários surgiram, sempre colocando a culpa no campeonato de artes marciais, como o próprio teor da manchete já explicita.
No mesmo fim de semana do UFC, o Campeonato Brasileiro teve a rodada dos clássicos estaduais, onde está sempre presente a grande rivalidade dos times e, infelizmente, das torcidas, sobretudo das organizadas. Diversos conflitos foram registrados, até mesmo em jogos de torcida única, como foi o caso do jogo Atlético MG x Cruzeiro, que recebeu apenas a torcida do Galo, mas que ainda assim casos de agressões foram vistos. Isso sem falar no jogo do Corinthians X Palmeiras, com registro de homicídio praticado em conflito de torcidas.
Tudo isso leva à reflexão: até quando será tolerado, e não digo apenas pelo poder público, mas por todos nós como sociedade, que este tipo de evento, no formato que tem ocorrido, aconteça? Todos os jogos que envolvem grandes torcidas acabam do mesmo jeito, com atos de violência e vandalismo. E isso porque as televisões não mostram realmente os bastidores, pois ali que acontecem as intimidações, pequenas brigas, torcidas visitantes sendo obrigadas a receber escolta da polícia desde a chegada à cidade, entrando correndo no estádio e esperando até 3 horas após o jogo para poder sair. Que tipo de diversão é esta?
Além disso, pense na quantidade de serviços públicos desviados para o atendimento a este tipo de evento: efetivo enorme de policiais, ambulâncias, médicos e enfermeiros, fiscais, entre outros. Lógico que estes serviços estão aí para nos atender, já que são mantidos pelos nossos impostos, mas será mesmo que deslocar mais de mil policiais apenas para um evento é necessário? Quanta falta estes profissionais farão no cotidiano das outras pessoas que resolveram não ir ao estádio. E este efetivo é deslocado para lá justamente pelo histórico de problemas que se tem nesses eventos. Tudo certo em se ter serviços públicos de qualidade nos eventos que nos garantam diversão, mas o que se critica é a mobilização uma verdadeira operação de guerra a cada jogo que acontece.
Partindo para o esporte em si, o UCF parece ser o mais violento, aquele que carrega consigo sangue, agressões, pancadas. E o futebol não é do mesmo jeito? Quantas e quantas vezes assistimos pancadarias em campo? E as entradas desleais, algumas chegando até mesmo a serem julgadas pelo STJD com punições aos atletas? Futebol é sim um esporte violento, mesmo em peladas os atletas saem contundidos, roxos. E isso é normal, assim como é normal no UFC o atleta sair de olho roxo, sangrando. Faz parte do esporte. E isso não quer dizer que as pessoas que assistem as lutas vão sair por aí quebrando o primeiro cidadão que aparecer na frente. Assim como quem assiste a uma partida de futebol não vai sair por aí dando carrinho por trás em todo mundo.
É preciso repensar o formato da exibição dos eventos, principalmente os esportivos. Não dá mais para ir aos estádios e passar por tudo isso. Não dá mais para ver milhares de servidores deslocados para atender a um bando de marmanjos que vão para lá somente para brigar, causar tumulto. Não dá mais para aceitar organizações mantidas com dinheiro sabe-se lá de onde, que se escondem atrás dos escudos dos clubes, mas que detém poder muito maior do que deveriam ter. Não dá mais para pagar para assistir futebol e ter de brinde seções de vale tudo (vejam, não é sinônimo do que se pratica no UFC) do lado de fora dos estádios. Chega! O árbitro já apitou o fim deste jogo e todos nós já fomos nocauteados faz tempo.
É isso.