Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Velando a hipocrisia

A hipocrisia, segundo meu amigo Aurélio, trata-se de impostura, fingimento, simulação ou falsidade. Mais do que isso, é um comportamento inerente ao ser humano, que utiliza esse subterfúgio para parecer mais sensível, menos frio e calculista. Somos constantemente hipócritas, tentamos passar uma imagem melhor do que carregamos em nossa essência, agimos seguindo algumas convenções sociais, ainda que desagrade, apenas para sermos mais bem aceitos na comunidade na qual vivemos.

Não sei se existe outro lugar onde melhor vejo a expressão da hipocrisia do que um velório. O ambiente é muito triste para a maioria das pessoas, um ente querido que se foi, uma vida reduzida a um corpo dentro de um caixão. Todo esse clima proporciona um tipo de conversa, que acontece após aquele momento de impacto de ver a pessoa morta, que é amparada, na maioria das vezes, por discursos hipócritas.

O papo geralmente é o mesmo: “é, a gente precisa aproveitar mesmo a vida, nunca sabemos quando vamos embora desse mundo” ou então “a gente não leva nada dessa vida, não devemos ser apegados a coisas materiais, não se leva nada no caixão”. Papo furado! Observe as pessoas e veja: quem mais fala isso são as que agem justamente ao contrário do que estão pregando, que vivem apenas em função das coisas, não dos seres.

A morte deveria mesmo abrir nossos olhos para essas questões. Por que ser tão apegado a bens, a coisas? Por que não ajudar a quem precisa? Por que não fazer coisas que dão prazer apenas para guardar dinheiro, ou apenas para não ficar mal visto no grupo social, ainda que o desejo não seja ilegal ou imoral, por exemplo? De fato, o discurso nos cemitérios é a verdade que se deseja, mas não a verdade que se busca, a que se manifesta em nosso cotidiano.

Viver a vida sem ter esse apego excessivo à matéria seria muito melhor. Ajudar quem precisa, dentro das nossas possibilidades, é uma dádiva. Infelizmente nosso sistema é cruel, só existem pessoas ricas porque há uma grande massa pobre que é constantemente explorada. Sem isso o sistema não seria possível. Mas há alternativas para minimizar essas questões, para fazer com o que nosso semelhante sofra menos.

Não estou falando, caro amigo, apenas de ajudar financeiramente a quem precisa. Lógico que isso também é necessário, mas não deve ser visto como única alternativa. Ser educado, em muitos casos, é uma forma de ser melhor com as pessoas. Cumprimentar o porteiro, ou a faxineira, não deve ser feito apenas porque é bonito mostrar para as pessoas que você é um ser humano legal, mas sim porque o seu desejo é esse, é ser gentil com qualquer pessoa, independente da posição social que ela ocupe.

Ainda que a violência nos assuste, vejo uma situação onde ela, a violência, se manifesta de forma velada, mas não menos cruel que as demais. Ao pararmos nos sinais, as pessoas vêm vender coisas e, em muitos casos, fechamos ou vemos as pessoas fecharem os vidros e fixarem o olhar para frente, ignorando quem está ali tentando ganhar algum dinheiro com o trabalho. O ato de ignorar é uma violência sem tamanho. Ter a sensação de estar invisível é muito traumático, é doloroso. Isso motiva outras atitudes agressivas que nos parecem atos isolados de criminalidade, mas que trazem em suas raízes o sentimento de raiva, de sofrimento, de querer demonstrar que existe da pior maneira possível, mostrando poder de dominação através de atos violentos.

Antes de falar, de pregar alguma verdade, é bom pensar se realmente agimos daquela maneira. Dar conselhos é bom, mas segui-los, antes de externá-los, é ainda melhor. Pense nisso e reflita um pouco sobre suas atitudes, se elas condizem o que você pensa, se combinam com a imagem que as pessoas têm de você e se de fato elas conseguem melhorar alguma coisa nesse nosso mundinho tão estranho.

É isso.

4 comentários:

M.enal.i disse...

Estou muito feliz ao ver o seu progresso neste pouco mais de um ano. Mudou até as caras dos textos, já que muitos, não todos, mas muitos problemas internos foram sanados..heheh E acho que não sou suspeita para isso...rs...E para velar a minha hiprocrisia e fazer diferente do que falo....o blog da comunicação só tem a ganhar, pois eu mais do que ninguém, sei de que há sim pessoas com o dom que muitos colegas jornalistas diplomados não têm!

Boa sorte meu companheiro!

Mulher na Polícia disse...

A sociedade está viciada em hipocrisia, tem toda razão, mas ainda acredito que exista alguma sinceridade sim... Difícil é detectar uma e outra nas atitudes humanas. Chega a ser divertido.

bjo!

Mulher na Polícia disse...

Vitão, você é um gentlemam por tratar de assunto tão indigesto com tanta diplomacia. Eu não ando muito paciente por esses dias…
Mas, pra você ver: “O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém” (Shakespeare).
Que bom que voltou!
Beijos!

Guilherme Freitas disse...

Bom texto Victor. Eu acho que todos nós somos as vezes hipócritas. Eu posso falar por mim e não vou negar que já fui hipócrita em alguns momentos. Mas eu procuro ser sempre polido e educado, sem julgar uma pessoa antes de conhece-la. Afinal de contas somos todos iguais. De carne e osso que quando morrermos viraremos pó. Abraços.