Estando a casca bem, que se
deixe de lado o conteúdo. Que se valorize o ter ao invés do ser. Que se vomite
a famosa “você sabe com quem está falando?”. Que se classifique as pessoas por
suas posses, por sua renda, por seu status social. Que se use o verbo comprar
com mais frequência do que um por favor, um muito obrigado. E que se siga
vivendo uma vida mesquinha, pobre de substância, superficial.
Há quem consiga viver uma
vida inteira somando objetos ao invés de somar sentimentos. Há quem consiga
monetizar tudo e todos, enxergando sempre com um cifrão nos olhos. Há que
permute uma pessoa boa, porém sem grandes recursos financeiros, por uma amizade
de aparência com alguém que muito possua, ainda que essa pessoa mal saiba da existência
do fã de cifras alheias.
Como conseguem viver assim?
Como podem achar que o mundo gira em torno das posses? O mais contraditório é
que as pessoas que vivem assim não são as afortunadas financeiramente, pelo
contrário, são pessoas que dependem de outras, pessoas que não conseguiram dar
um rumo para a própria vida e seguem seu caminho dessa forma para satisfazer o
próprio ego, para completar um tanque raso de essência.
Atrás de uma falsa
solidariedade vem um interesse sem tamanho. Por debaixo da fina cortina de
compreensão vem a vontade de ganhar algo. Um convite para uma festa chique,
ainda que o lugar reservado seja o mais escondido possível, é mais comemorado
do que a evolução intelectual de um ente querido.
O assunto geralmente é fulano
comprou isso, beltrano tem aquilo, fulanita vai para o exterior, sempre nessa
linha. Arrumam desculpa para a
estagnação da própria vida, mudam de assunto, não enxergam e não reconhecem a
culpa de terem se enfiado ali, naquela vida sem graça, em tons de cinza. Como
um telespectador de um Big Brother, fixam-se na vida alheia, como se embaixo do
próprio nariz fosse local isento de problemas.
Tenho pena de pessoas assim.
São pessoas infelizes. Conseguem alguns minutos de alegria quando estão
comprando uma futilidade qualquer, quando estão no meio de um grupo social com
grande poder aquisitivo. Mas colocam sempre o objetivo de felicidade no ter, na
posse. E se decepcionam, claro. Pena que não conseguem enxergar que a vida teria
muito mais sentido se buscassem o entendimento, a compreensão, a empatia, o
bem-estar dos outros.
É
isso.