“Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorria, sorria hoje. Pois o
importante é viver o hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha”. Não irei pesquisar a autoria dessa frase.
Registro apenas que ela estava tatuada nas costas de uma menina de dezoito
anos, uma das mais de duzentas vítimas fatais da tragédia em uma boate da
cidade de Santa Maria. Uma menina com toda uma vida pela frente, com sonhos,
com projetos, com desejos. Tudo isso se foi em apenas alguns instantes, tudo
enterrado com muita dor e sofrimento, um ponto final em um livro com muitas páginas em branco.
É de se pensar, caro amigo,
quando nos deparamos com situações assim. O que estamos buscando para nossas
vidas? Pelo que exatamente vale abrir mão de prazeres, em prol de um futuro que
a gente não sabe se vem, quando vem, como vem? Ao nos depararmos com um fim de uma vida como
esse, temos a certeza da nossa fragilidade e perecidade neste mundo. Independente
de crenças, vivemos aqui um breve momento, uma vida que passa em um piscar de
olhos, isso quando ela segue seu curso normal, com a morte ao envelhecer. Imagine
então um cessar da vida tão repentino como o dessa tragédia?
Abrimos mão de muitas coisas
baseados em conceitos morais, em economia que beira a mesquinhez, em
preocupação com opiniões alheias. “O medo é o pai da moralidade”, já dizia Nietzsche.
Vivemos, em muitos casos, uma vida medíocre por medo, medo de receber críticas,
medo do que irão achar, medo de ser estigmatizado negativamente. Passamos anos
e anos reprimindo sentimentos, nos abstendo de sermos um pouco mais felizes,
tudo isso em nome de uma ordem moral, de um conceito criado por sabe-se lá
quem. E aí ela chega, a dona morte, levando tudo o que ficou preso, levando
toda a vontade de fazer, levando todos os “nãos” que deveriam ter sido ditos,
todos os “sins” que ficaram apenas em nosso pensamento.
Não é uma apologia à anarquia,
não é isso. O limite deve ser sempre em não se fazer maldade com as outras
pessoas, em não incomodar a ponto de causar irritação, de causar grandes
desavenças. Mas agir sempre de acordo com o que o outro quer é se limitar
demais, impedir criações, descobertas, experiências. Há um preço que se paga
por ser livre e muita gente não está disposta a pagar por ele, já que costuma
ser um valor alto. Dar o grito de independência muitas vezes implica em abrir
mão de conforto, de segurança, de mimos. Ponderar entre essas duas coisas não
costuma resolver. Não se é totalmente livre, não se é totalmente dependente. Viver
em cima do muro é lamentável, vive-se uma vida incompleta, inconsistente, ou
seja, não se vive.
É isso.
Dedico este pequeno texto aos vitimados desse lamentável acidente. Que
todas as famílias recebam o carinho das pessoas que rezam, oram e pensam nelas.
Um comentário:
Muito bom!
Excelente!
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