Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

sábado, 9 de agosto de 2014

PÃE


Não escolhemos onde vamos nascer. Não temos a chance de saber em qual família vamos cair. Mas é engraçado como as coisas se encaixam de uma forma “legoliana”. Você acha que seus pais são os melhores que possam existir no mundo. O colega do lado acha a mesma coisa dos pais dele.  Com raras exceções isso não ocorre. E também ocorrem casos em que a figura dos pais recai sobre uma pessoa, ou o pai ou a mãe.

E lá, naquele interior mineiro, aparece uma mulher guerreira. Aos 32 anos eis que surge em sua vida uma pequena figura. Uma mistura de um bocado de vontade com outro bocado de falta de planejamento. Mas quem disse que tudo nessa vida precisa necessariamente ser planejado? Pois é, há coisas que não são planejadas e que acabam se tornando boas. Acredito que tenha sido esse caso. Ao menos é que as pessoas falam e que o personagem da história sentiu e sente.

A vida foi seguindo, aos trancos e barrancos, mas foi. Não foram poucos os momentos de luta, de raiva, de angústia, de limitações. Mas eles passaram, como ela sempre acreditou que passariam. Ninguém, senão ela, acreditava que tudo aquilo poderia dar certo. E deu. Não é do ponto de vista financeira apenas.  É também no ponto de vista da honestidade, do caráter, da vontade de fazer as coisas do jeito certo. E da vontade de retribuir todo o sacrifício, todas as horas de pedidos, todos os quilômetros de caminhadas, todo o amparo. Isso talvez falte da parte de quem sempre recebeu, talvez sempre vá faltar. Mas não falta a vontade de retribuir.

As projeções jogavam para baixo. O comentário geral era de que não daria certo. A boca miúda dizia que criança criada naquelas circunstancias não poderia ter um futuro promissor. Mas não foi assim. Ela foi lá, comprou a briga do jeito que deu, usou as ferramentas que eram acessíveis, colocou a própria cara a tapa, literalmente, e fez mudar as perspectivas. Ela bancou, “filho meu tem que estudar”. Isso foi feito. A vaga conseguida à base de sorteio em uma escola pública foi honrada, foram 14 anos no mesmo colégio público, com uniforme garimpado na caixinha de doações, com tênis “semidão”, com cadernos de folhas amarelas, com livros comprados no sebo.

Acabou que o moleque tomou gosto por esse tal de estudo. E foi ficando bom nisso. No colégio já era normal ficar tranquilo com notas; “passar de ano” nunca foi a preocupação porque isso acontecia naturalmente. Sem muita ideia do que iria fazer da vida, o caboclo foi crescendo. E aí ele se amparou nos estudos para tentar um caminho. E foi buscando, passando num concurso público aqui, noutro ali. Não se sabe se atingiu o ápice, mas é provável que se tenha alcançado um posto talvez nunca pensado. Dane-se isso! Importante mesmo é ver se a coroa tá bem, o que se pode fazer para tentar dar um conforto a ela. Fundamental é ver que o esforço dela valeu a pena, que o cara que tinha boas chances de cair no mundão aí, de buscar o fácil caminho do crime, foi orientado a tomar outro rumo e assim o fez.


Hoje ele é orgulho da mãe, orgulho da irmã, mas muito mais que isso. Ele agradece sempre por ter sido colocado nesse meio, por ter passado o que passou, por ter tido as experiências que teve.  Hoje a ideia é retribuir, ter a sensação de que qualquer coisa que se faça ainda é pouco perto do que recebeu. E assim será feito, dia a dia, tempo a tempo. 

É isso. 


4 comentários:

Anônimo disse...

Victor, obrigada pela homenagem. Eu não esperava que eu merecesse tanto. Se fosse preciso faria tudo de novo, compraria seus livros usados na Banca do Vasco e mergulharia nos caixotes de uniforme. Sou a mãe mais invejada por ter um filho como você. Se você é a pessoa que é hoje, agradeça a Deus em primeiro lugar, por ter nos guiado esses anos todos. Sem a ajuda Dele não teria conseguido te criar. Fique com Ele agora, nessa nova etapa, e sempre. Um beijo pra vocês e pra minha neta. Sua pãe.

Anônimo disse...

Gratidão, jamais terá preço!

Anônimo disse...

Victão, a gratidão é uma das maiores qualidades que alguém pode ter. Que bom que ela mora em seu coração e que te faz sentir isso tudo por essa mãe maravilhosa que temos. Te amo muito. Obrigada por ser meu irmãozão. em PÃE

Jaci

Ana Paula Mota disse...

Quanto mais difícil foi a vida, mais valor damos às conquistas.. Parabéns à sua "Pãe", por tudo que conquistou com você e sua irmã..