Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Amor, dependência e controle

Sou um pouco cético quando observo as pessoas trocando declarações de amor por aí. Não, não duvido da existência desse sentimento e o acho fundamental para nossa vida, mas acredito que muitas pessoas banalizam esse sentimento por aí afora. E essa é apenas uma das “más aplicações” do conceito de amor. Tentarei mostrar algumas delas nesse pequeno texto.

Talvez você, caro amigo, já tenha reparado essa situação: uma pessoa que mal conhece a outra e já a trata pela alcunha de amor. É provável que a pessoa que diga isso nem perceba tanto, mas será que quem ouve não acha, no mínimo, estranho? Bom, eu acharia. Mais do que estranho, acharia vazio, desnecessário e, com toda certeza, falso. Alguns substantivos, como amor, amigo, entre outros, não devem ser dito tão desnecessariamente, não devem ser vulgarizados, colocados no mesmo patamar de outros com menos intensidade.

Outra situação é a confusão que existe entre amor e dependência. Essa dependência, aliada ao comodismo, faz com que algumas pessoas confundam os sentimentos, achando que amam aqueles que apenas estão cotidianamente em suas vidas, que são presentes como uma carteira ou um celular, que farão falta quando “sumirem”, mas que poderiam ser substituídos por outra pessoa, sem maiores traumas. Acontece que optar por essa troca não é tarefa simples e, dessa forma, as pessoas vão levando seus relacionamentos, deixando passar o tempo e não se dando conta de que isso só aumentará o sofrimento quando essa relação se romper.

Ser dependente de outra pessoa tem diversas implicações negativas. Não se vive uma vida dessa forma, senão corre-se o risco de não ver a maior parte de suas vontades satisfeitas, de ver que sua vida passou em função de outra, em função de desejos de outra pessoa, muitas vezes não coincidindo com os seus. O problema é que quase sempre quem está nessa situação não consegue visualizar que a vida corre dessa maneira. Quem vive iludido, achando que tudo é em função do amor, até briga quando outra pessoa faz algum comentário sobre essa situação, acha que é inveja, ciúmes, etc. Pode até ser mesmo, mas em muitos casos não é. Quem está de fora consegue enxergar coisas diferentes, pode ver o mal que a pessoa está fazendo a si mesmo se enganando dessa maneira.

Por último, acho interessante falar no amor como subsidio para controle. É importante, caro amigo, dizer que essa situação não é necessariamente o contrário da dependência, já que muitas pessoas controladoras são, ao mesmo tempo, extremamente dependentes. De fato, talvez essas duas características andem lado a lado, mas não necessariamente na mesma proporção. Por amor, controla-se os passos da outra pessoa. Com a justificativa do amor, sacrifica-se um descanso, uma coisa importante a ser feita, para exercer o controle. Quem controla precisa abdicar de atividades necessárias para ter tempo de controlar. Quem é controlado, considera essa “dedicação” excelente, acredita que o amor faz com que ela tenha toda atenção do mundo, não conseguindo ver, todavia, qual a real intenção desse tipo de atitude.

No mais, é isso. Sei que pode parecer uma visão muito pessimista, mas penso que nada mais é do que a observação um pouco mais fria, um pouco menos romântica, de situações cotidianas. Lógico que tem muita gente feliz com a vida desse jeito, mas talvez esse conceito de felicidade, esse suposto ápice que ela acha que vive, não seja absolutamente nada em vista do que ela poderia viver se pensasse de outra forma.
.
É isso.

11 comentários:

Fran disse...

Gosto dos seus textos,pq sempre parece q vc está falando pra mim….
Isso tudo tem muito haver com um momento q eu estava passando… e que aos trancos e barrancos demorei pra enxergar….

Daiane Torres disse...

Bom, no meu caso foi um pouco diferente. Eu vivia a situação do comodismo, mas sempre soube disso, não estava iludida, e sim disposta a passar por isso e por outras coisas. Sempre comentava com amigos a situação e sempre concordava com o que me diziam, mas eu “gostava” de viver assim. Só que a paciencia esgotou!
Graças a Deus nunca fui dessas de amorzinho pra cá, paixão pra lá, porque acredito que AMOR vai mais além. Como diz minha mãe, amor mesmo só existe de pais pra filho!
Já presenciei casos e casais, que amam de paixão no dia, se odeiam a noite, e no dia seguinte já amam outra pessoa! Estranho né?
bjus

Paula disse...

Nossa que texto !!!!!!
Fiquei boquiaberta !!!!!
Parabéns pela clareza ao expressar-se!!!!
Abraços,
Paula

Tiburciana disse...

Meu caro Vitor,
é incrivel esse texto tem muito haver com o que penso principalmente a primeira parte.
Gosto muito cmo vc escreve , mas isso vc já sabe e não se faz necessario repetir o quanto te admiro.
Vou linkar seu texto no meu blog hj que gostei muito
BJOCAS

Vanessa Monique disse...

Olá,nossa amei isso que vc escreveu.
Mt bom mesmo.
É verdade,mts das vezes confundimos amor com dependência.
Isso com o tempo mts pessoas,mas qnd termina o relacionamento percebe outras não.
:*

Rui Soares disse...

É curioso que no caso das pessoas raptadas, muitas vezes a dependência relativamente ao raptor gera um sentimento de empatia entre quem foi raptado e que raptou (sindrome de estocolmo).
Eu concordo com você de que utilizamos muitas vezes a palavra amigo, quando se trata apenas de conhecidos. Eu, por exemplo, tenho muitos conhecidos no diHITT, mas como sou novato não posso dizer que tenha já um ou vários amigos. Espero que isso aconteça no futuro.
E o problema no amor é que raramente fazemos psicoterapia cognitiva. Raramente reflectimos sobre as nossas vidas e sobre as nossas emoções. E isso tem com consequência que muitas vezes não sabemos distinguir as nossas emoções. Não as conhecemos. E tratamos como amor uma coisa que pode ser uma dependência, uma habituação, um amizade, uma paixão.
Mas, existimos para AMAR. Se formos capazes de amar e de sermos amados, numa relação entre duas pessoas, ou se formos capazes de amar incondicionalmente todas as pessoas, acho que isso nos coloca mais próximos do estado de felicidade

Geraldo disse...

Devo relatar que também causa estranheza este tipo de situação. Até porque não é com poucos encontros que se forma um laço mais duradouro, porque certas atitudes necessitam de tempo para se fortalecerem ou degenerar..
Muito bom o seu artigo..
Abraço

Guilherme Freitas disse...

Mais um excelente texto Vistor, parabéns. Eu vejo muito por ai pessoas que começam a namorar e já cravam em seus perfis “amor eterno, te amo pra sempre, etc…” Conheço um monte de gente que falava isso e depois terminava o namoro. É impossível você dizer que ama alguém após dias de relacionamente. Amor a gente descobre com o passar do tempo e este sentimento é muito forte e não pode ser banalizado. Abraços e parabéns pelo artigo.

Ana Karenina disse...

olá Victor
gostei muito do post e de sua reflexão a respeito desse tema, mas permita-me primeiramente que eu discorde da seguinte fala sua:
Sei que pode parecer uma visão muito pessimista, mas penso que nada mais é do que a observação um pouco mais fria, um pouco menos romântica, de situações cotidianas.
Eu não penso que sua visão seja pessimista nem fria ela é apenas mais racional e menos comum do que se vê por aí.
Agora me permita comentar algumas coisas sobre esse assunto:
Com relação ao que você disse sobre não acreditar em pessoas que declaram amor a pessoas que mal conhecem eu concordo, recentemente eu até havia comentado sobre isso num post que “acredito em amor, mas não em amor eterno e incondicional”, porque já sabemos que o tal “amor” declarado deixa de acontecer por motivos até banais, então amar alguém impõe sim certas condições pra acontecer e durar.
Outra coisa que também vejo e que você frisou bem é que as pessoas parecem que fazem questão de dizer para as pessoas menos próximas que amam elas não como demonstração de afeto, mas me parece que seja pela intenção de querer retorno, pra fazer uma bela imagem perante outros ou pra prender e controlar alguém com aquele sentimento que supostamente serviria pra unir, como se isso fosse fazer alguma diferença. Talvez faça para alguns, mas logo essa teoria cai por terra na primeira desilusão.
Enfim, acredito que precisamos sim declarar afeto, amor e amizade a quem realmente tem importância e significado na nossa vida e não sair por aí “doando” ou declarando sentimentos que não fazem ainda sentido de se ter. Com isso, acho que pra chegar ao ponto de se declarar é preciso se ter uma base bem sólida dessa relação, acho que assim evitaremos de “amar” muitos estranhos e nos desapontarmos a toda hora porque o estranho não nos retribuiu. Pensar assim é pensar com sensatez e não loucura ou frieza, eu posso amar as pessoas mas posso também perfeitamente refletir sobre porque as amo.
é isso aí, um abraço

Nona disse...

Concordo com o último comentário no que diz respeito as demonstrações de afeto, quando de fato ele exista. O que acontece, ao meu ver, é que com o passar do tempo ou com a experiência tendemos a descobrir mais coisas sobre esse tal AMOR, passamos a despoetizá-lo um pouco, permita me se isso for mais um dos meus neologismos. Aquel amor de conto de fadas vais endo desvendado ou desmitificado. Como já dito, não acredito em amor incondicional e eterno, acredito em fases do amor, em altos e baixos, em transformações e, que o amor pode sim se desfazer por coisas banais.
Mas uma coisa é fato, o controle da pessoa amada não resulta no controle do sentimento que ela tenha por você, têmos de cultivar e nunca controlar!
UM beijo grande!

Mulher na Polícia disse...

Oi Vitão!
Nossa! Nesse tema você realmente se aprofundou bastante. E muito bem.
Veja, na minha concepção, o termo amor é maior que o clássico entendimento que se faz dele: “um sentimento”. Amor não é apenas sentimento. Se o amor fosse apenas um sentimento não haveria espaço, por exemplo, para o perdão.
Determinado tipo de perdão é atitude em primeiro lugar e depois, com o tempo pode vir a ser um sentimento.
O amor nem sempre depende do que sinto. Em deteminadas situações sequer quero sentir, mas quero amar assim mesmo. Posso amar os meus pais, por exemplo, mesmo que me incomode essa ou aquela atitude deles, porque amo os meus pais (atitude) independentemente de amar seus vícios e defeitos.
Nesse sentido, acho perfeitamente possível eu dizer, “meu querido”, “meu amor”, independentemente do sentimento real que eu tenha por determinada pessoa, quando essas palavras querem significar minha pré-disposição para amar seja sentimentalmente seja em forma de atitude.
Infelizmente, quando limitamos o amor a um mero sentimento, nós o aleijamos, o deixamos capenga. E o que seria o sentimento mais sublime que a humanindade poderia conhecer, condicionado a um sentimento, torna-se uma revelação da crueldade egoísta dos seres humanos. E isso é muito triste.
O amor que é amor mesmo não exige NADA em troca.
É isso. : )