Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

domingo, 17 de março de 2013

EMBALAGEM




Estando a casca bem, que se deixe de lado o conteúdo. Que se valorize o ter ao invés do ser. Que se vomite a famosa “você sabe com quem está falando?”. Que se classifique as pessoas por suas posses, por sua renda, por seu status social. Que se use o verbo comprar com mais frequência do que um por favor, um muito obrigado. E que se siga vivendo uma vida mesquinha, pobre de substância, superficial.

Há quem consiga viver uma vida inteira somando objetos ao invés de somar sentimentos. Há quem consiga monetizar tudo e todos, enxergando sempre com um cifrão nos olhos. Há que permute uma pessoa boa, porém sem grandes recursos financeiros, por uma amizade de aparência com alguém que muito possua, ainda que essa pessoa mal saiba da existência do fã de cifras alheias.

Como conseguem viver assim? Como podem achar que o mundo gira em torno das posses? O mais contraditório é que as pessoas que vivem assim não são as afortunadas financeiramente, pelo contrário, são pessoas que dependem de outras, pessoas que não conseguiram dar um rumo para a própria vida  e seguem seu caminho dessa forma para satisfazer o próprio ego, para completar um tanque raso de essência.

Atrás de uma falsa solidariedade vem um interesse sem tamanho. Por debaixo da fina cortina de compreensão vem a vontade de ganhar algo. Um convite para uma festa chique, ainda que o lugar reservado seja o mais escondido possível, é mais comemorado do que a evolução intelectual de um ente querido. 

O assunto geralmente é fulano comprou isso, beltrano tem aquilo, fulanita vai para o exterior, sempre nessa linha.  Arrumam desculpa para a estagnação da própria vida, mudam de assunto, não enxergam e não reconhecem a culpa de terem se enfiado ali, naquela vida sem graça, em tons de cinza. Como um telespectador de um Big Brother, fixam-se na vida alheia, como se embaixo do próprio nariz fosse local isento de problemas.

Tenho pena de pessoas assim. São pessoas infelizes. Conseguem alguns minutos de alegria quando estão comprando uma futilidade qualquer, quando estão no meio de um grupo social com grande poder aquisitivo. Mas colocam sempre o objetivo de felicidade no ter, na posse. E se decepcionam, claro. Pena que não conseguem enxergar que a vida teria muito mais sentido se buscassem o entendimento, a compreensão, a empatia, o bem-estar dos outros.


É isso. 

sábado, 16 de março de 2013

AFRODISÍACO




Um belo bumbum chama a atenção. Um par de seios atrai o olhar. Pernocas de fora causam pequenos traumas ortopédicos nos pescoços alheios. Quanto menos roupas, mais “fiu-fius” nas ruas. Lindo, lindo, lindo! Quem não admira mulher assim? Que homem (dos que gostam, lógico) não se encanta com mulheres lindas, vestidas “para matar”?  

Sim, mas e aí? É o que basta para dar tesão? Pode ser. Para uma ou algumas saídas, para um tempo, para uns encontros, claro que é. Mas passa disso? Depende. Caso a gostosura da introdução deste texto se resuma a apenas isso, vai depender muito. Se o camarada tiver os mesmos interesses que ela, der mais valor ao ter do que ao ser, preocupar-se mais com o tamanho do braço do que com as razões de sua existência, aí tudo tende a fluir bem. Mas caso haja um mínimo de senso crítico, aí, caro amigo, o caldo engrossa.

Há aqueles que gostam das gostosonas. Há quem goste de gordinhas, das novinhas, das com cara de nerd, das loiras, das mulatas. Há gosto para tudo, para todos. E há aqueles que gostam de conversar. Não uma conversa de balada, não uma conversa de chavões, de cantadas apenas, de pequenas mentiras que garantirão um fim de noite bem sucedido. Nada mais excitante, mais atraente do que uma boa conversa, uma conversa que causa interesse de ambas as partes, que provoca uma sensação de querer mais e mais, querer estar perto para saber tudo em tão pouco tempo.

Inteligência é, de fato, um afrodisíaco. Não creio que esse tempero da excitação esteja cravado em um diploma. A inteligência que seduz não se aprende nos bancos das universidades.  A inteligência que seduz é a do não conformismo, a do questionamento. É aquela mínima vontade de entender o sentido das coisas, das ações. É aquela que motiva reações, críticas. É ela que intriga, que faz não compreender num primeiro instante, que motiva a investigação, que instiga o aprofundamento. É ela, no final das contas, que traz o gosto de querer mais.

Malhar o corpo é ótimo. Faz bem para a saúde, bem para a autoestima, para a alma. Trabalhar as percepções, o senso de ser e estar, é fundamental. Nosso corpo um dia se amolda, nossa mente extrapola qualquer limite imposto. Busque o além do usual, questione, pense que aquilo posto pode não ser exatamente o que se prega ser. Um passo além do senso comum pode significar uma nova descoberta, mesmo que não seja digna de um Prêmio Nobel, mas que talvez altere o curso de uma importante vida -  a sua!

É isso.  

Obs: recebi, dia desses, de uma amiga, uma frase bem interessante, para os que gostam de escrever. Eis o teor: “escrever é feito caridade, faz bem ao destinatário e sobremaneira a seu autor.”

Boa música para encerrar. "O quereres", com Caetano e Chico. 




terça-feira, 5 de março de 2013

VIOLÊNCIA, SOCIEDADE, POLÍCIA



Em uma cidade qualquer desse país, um adolescente é apreendido pela polícia por tráfico de drogas e levado à delegacia responsável pelo trâmite envolvendo menores infratores. Em sua segunda passagem policial pelo mesmo crime (ou ato infracional análogo ao crime, como queiram), eis que a mãe do pequeno cidadão chega e, com o rosto transtornado de raiva, vai em direção aos policiais, em tom de extrema arrogância, para perguntar o que seu filho havia feito. Os policiais explicam que o pequenino de apenas dezessete aninhos vendeu maconha a diversos usuários, além de esconder outra grande porção da droga em um arbusto. Para surpresa de todos os presentes, a mãe do menino questiona: “ele tá preso só porque vendeu maconha?”. O menor apenas sorri de canto de boca, mas sorri.

Uma famosa atriz, de um canal qualquer, tira diversas fotos em momentos íntimos e as salva em um computador. Eis que essas fotos caem na internet e em horas são acessadas por milhões de pessoas. A atriz, magoada, lógico, vai à polícia e exige providências. A mídia, principalmente a do canal da atriz, cai em cima também. Em alguns dias o autor do furto e divulgação das fotos é preso em casa, mostrando extrema eficiência da força policial local. E que batam palma para a polícia! Esquecem-se, entretanto, que enquanto vários policiais se ocupavam para descobrir o autor do crime em questão, outros milhares de crimes pipocavam pela cidade, crimes graves, inclusive, como roubos, estupros e homicídios. Crimes que ficarão sem autoria, pelo parco efetivo policial, pela pouca efetividade das leis, por prioridades invertidas criadas pela mídia.  

O homem já foi à Lua. O homem mandou robozinho a Marte. O homem consegue perfurar mais de três mil metros mar abaixo para extrair petróleo. Por que então, caro amigo, que esse mesmo homem não consegue bloquear o uso de celular nos presídios? Sim, esse aparelho não era nem para entrar no sistema penitenciário, mas já que entra, por diversas razões, qual o motivo de não haver bloqueio para que eles não funcionem lá dentro? Será que eles sabem que grandes quadrilhas, nascidas e articuladas lá de dentro, comandam a maior parte da criminalidade daqui de fora?

A polícia nunca faz nada, dizem por aí. Certo cidadão bradejava que seu celular havia sido “roubado” e que até hoje não aparecera. Ao longo da conversa, mencionou também que não havia registrado ocorrência na delegacia, pois não possuía a nota fiscal do aparelho, já que comprara de um desconhecido, a preço muito inferior ao de mercado.

O policial foi surpreendido por uma equipe de reportagem dirigindo a viatura sem o cinto de segurança. Matéria longa de TV, mais de 5 minutos, com explicação do comando, com críticas da população, com bronca do âncora do jornal. Uma jornalista de uma grande emissora foi pega no bafômetro. Gostam de precisão? Exatos 33 segundos para comentar o fato que, diga-se de passagem, só foi ao ar por pressão em redes sociais.

Definitivamente, sociedade e polícia não falam o mesmo idioma. E quer saber? São estimulados a cada dia se tornar ainda mais incomunicáveis. Quem ganha com esse afastamento são ELES, os caras que mandam, que não querem ser atingidos, os intocáveis. Que mandem os pobres ao cárcere. Damos uma pequena resposta ao povão, nos livramos temporariamente de problemas e está tudo certo. Que se alterem as leis, criando brechas para nossos caríssimos advogados postergarem as sentenças. E que assim seja eternamente, ou ao menos enquanto durar nossos mandatos. Amém!

É isso. 

domingo, 3 de março de 2013

RAÍZES




Exercício importante é olhar para o passado para observar de onde viemos.  Ver que ter passado por muitas coisas, por muitas dificuldades, não deve ser motivo de vergonha, de tristeza. Pelo contrário, deve ser motivo de orgulho, orgulho em saber que ainda que o caminho tenha sido tortuoso, conseguimos chegar a algum lugar, conseguimos sobreviver com dignidade, sem fazer o mal para os outros, conseguimos alcançar um ponto que muitos duvidavam que chegaríamos um dia.

Lembrar um pouco dessas dificuldades também ajuda em outros dois pontos: faz com que reclamemos menos diante de algum problema e nos dá energia e motivação para lutar com mais afinco, para nem chegarmos perto do que já foi vivido. Ajuda muito em momentos de revolta, naquelas horas em que achamos que a coisa vai muito mal.

Dinheiro nenhum paga o olhar de satisfação daqueles que investiram em você, que abriram mão da própria vida para investir em outra. Ver a emoção, ver o orgulho de citar como exemplo uma pessoa que foi uma aposta de vida, é muito gratificante. Edifica saber que o sentimento é de trabalho cumprido, de que valeu a pena o sacrifício, valeu a pena acreditar.

Dê valor ao seu passado. Dê ainda mais valor às pessoas que batalharam nele para que você chegasse ao ponto que está hoje. Pense que essas pessoas poderiam apenas ter negligenciado sua presença, poderiam ter optado por viverem exclusivamente as próprias vidas. Mas não, abriram mão de muitas coisas para garantir seu desenvolvimento como ser humano, como um cidadão que busca sempre o caminho da dignidade, da honestidade. Elas são a base que sustenta o seu ser. E uma pessoa sem uma base sólida nada mais é que uma construção tendente a ruir a qualquer instante. 

É isso.