Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Exteriorizar



No nosso convívio diário somos constantemente cobrados a expressar o que estamos sentindo, ainda que esta expressão não seja necessariamente a realidade. Em todos os momentos as pessoas querem saber o que sentimos e esta resposta é dada, em diversas ocasiões, até mesmo pela linguagem corporal.

Saindo um pouco da generalidade e partindo para o campo do relacionamento, esta necessidade de expressão toma forma ainda mais forte. O pólo passivo na conversa quer ouvir sempre o que a outra parte tem a dizer e cobra, sobretudo, expressão de sentimento. Nem sempre o que se fala e o que se ouve é verdade, visto que a mentira se faz necessária em alguns momentos, como eu já relatei no texto “A mentira acalentando a alma”.

Nós, homens, somos cobrados quase que diariamente a dizer o que se passa em nossa cabeça no que tange ao relacionamento. Falar o que estamos sentindo, se gostamos, o quanto gostamos, o que pretendemos. Parece, aos olhos alheios, que esta é tarefa fácil, quase sistemática. Não é. E explicarei o motivo desta falta de sintonia entre quem quer ouvir e quem é quase obrigado a falar.

Não vou falar por toda a categoria masculina, já que há muita diferença entre nós. Falarei sobre mim e sei que muitos colegas irão se identificar, já que observo o mesmo comportamento, em relação a este assunto, mesmo em pessoas que possuem personalidade diversa da minha.

Acontece, caro amigo, que nós temos sim uma extrema dificuldade em externar o que sentimos. Não é tarefa muito fácil chegar e falar “te amo”, “estou apaixonado por você”, “você é a mulher da minha vida”. Na maior parte das vezes é exatamente isso que sentimos, mas esperamos a mulher enxergar isso de outras maneiras, sabendo que são estes sentimentos que fazem parte da nossa vida em comum. Problema maior é que é complicado a mulher enxergar isso de outras maneiras e ela precisa, necessariamente, de ouvir isso de nós.

Particularmente, expresso o que sinto através das ações. Não tive uma criação com muito contato corporal, com expressão de sentimentos. Apesar de todo o amor materno que recebi, ele não foi materializado com palavras ou carinhos, mas sim por ações, na maior parte das vezes de cunho altamente altruístico.

Este tipo de atitude vale para os dois lados. Tanto para as pessoas que gosto quanto para aquelas por quem não tenho tanta admiração assim. No caso destas, minha expressão resume-se ao ato de ignorar. Não sou de xingar, brigar, ficar falando mal. Apenas ignoro, como se aquela pessoa nunca tivesse feito parte do meu convívio. Acho melhor agir assim. Sei que em muitas vezes deixo de resolver conflitos que poderiam ter melhor solução, mas é um ato semi-institivo de me afastar das coisas que me incomodam. E isso não é uma mera fuga de problemas. É diferente. No caso dos problemas, procuro resolvê-los, não deixando que se tornem uma bola de neve. Este tipo de comportamento é mais limitado ao campo interpessoal.

Falo isso tudo para tentar demonstrar que muitas vezes você pode estar cobrando demais dentro de seu relacionamento. Ao invés de cobrar apenas palavras, tente observar o que é feito por você, o quanto a outra pessoa sacrificou interesses pessoais em seu favor. As atitudes têm muito mais valor que palavras soltas no ar. Lembro-me de um exemplo que marcou isso para mim: um amigo estava num início de relacionamento ainda e, por uma fatalidade do destino, perdeu seu pai. Nessas horas aparecem muitos “amigos”, parentes distantes e outras pessoas que realmente sentiram o baque daquela perda. Entre todas essas pessoas, a que mais me chamou a atenção foi a namorada deste amigo. Como era bem no começo do namoro, não sabíamos como seria o comportamento dela. Muitas se afastariam, deixariam o assunto para a família somente. Não foi isso que ela fez. Ficou ao lado dele por todo o tempo, dando um enorme apoio, sacrificando seu trabalho, seu descanso. Precisava falar que o amava? Coloque na balança um gesto assim e uma mera exteriorização e veja o que pesa mais.

Falar é importante sim, mas não é tudo. Muito mais coisas podem ser ditas com gestos. Enxergue isso e veja que a pessoa que você coloca na parede para falar o que você quer ouvir, às vezes está dizendo isso, através das ações, há muito tempo. Leve em consideração que a pessoa pode ser tímida, pode ter dificuldades de ficar falando. Você pode não ser assim, pode falar a todo momento, mas lembre-se que as pessoas são diferentes e é o respeito a estas diferenças que faz com que um relacionamento seja bem sucedido.

É isso.